Sim,
os paraíbas desta vez foram mais ousados. Passaporte na mão, atravessaram a
fronteira, enfrentaram o desafio do idioma e foram dar uma banda nos parceiros
do Mercosul: Argentina e Chile. Ele se achando o chefe da excursão, ela se
achando a intérprete do grupo.
Saída de Salvador com um pit stop no Rio de Janeiro, rumo à Buenos Aires. Era para ser uma breve parada na Cidade Maravilhosa, tipo desce, apresenta a documentação, despacha alguma coisa e vai embora, mas eles conseguiram o improvável: perderam o avião. Ele diz que foi ela. Ela diz que foi ele. Não interessa, ficaram os dois. Tudo bem, quatro horas depois eles embarcaram.
Saída de Salvador com um pit stop no Rio de Janeiro, rumo à Buenos Aires. Era para ser uma breve parada na Cidade Maravilhosa, tipo desce, apresenta a documentação, despacha alguma coisa e vai embora, mas eles conseguiram o improvável: perderam o avião. Ele diz que foi ela. Ela diz que foi ele. Não interessa, ficaram os dois. Tudo bem, quatro horas depois eles embarcaram.
Como
bons paraíbas do Norte e Nordeste, o frio era um desafio. No Brasil conseguiram
descolar uns casacos emprestados. Ela, se deu bem, chegou desfilando um
esportivo Paco Rabanne de couro marrom. Ele, desceu do avião parecendo um
esquimó crescido além da conta. Era um bonito casaco, mas talvez fosse mais
adequado para "A Era do Gelo I", quando o gelo ainda não tinha
começado a derreter. Vamos trocar dinheiro.
No
primeiro câmbio encontrado: - quanto é? - A moça é simpática, mas fala um pouco
enrolado. Pero que sí, pero que no!!?! Saíram com os pesos na mão.
Quanto foi mesmo? O quê? Fomos roubados! Vamos logo para Bariloche!
Que
graça é Bariloche, a porta de entrada da Patagônia argentina. A cadeia de
montanhas cobertas de neve, o centro cívico, a catedral, o lago Nahuel Huape,
as tonalidades do céu ao entardecer. Mal podiam esperar para esquiar! O quê?
Não tem neve? Esqui só daqui a dois meses? Mas como ninguém falou nada? Tudo
bem, eram inúmeras opções de passeios mais ou menos radicais nas proximidades
da cidade. Foram conhecer as cavernas "Los Leones", há 30km de
Bariloche, com direito, segundo as propagandas, a vistas maravilhosas, pinturas
rupestres, trechos de difícil acesso, lago no interior da gruta e breu total.
Vistas maravilhosas sim, mas a caverna era curtinha, o lago pequenininho, o
breu era olhando só para um dos lados da caverna e a pintura rupestre, tinha que
usar muito a imaginação. Quanto ao trecho de difícil acesso, se você tem mais
de 95 anos, é melhor não ir. De modo geral valeu, mas para quem anda pela
Chapada Diamantina, o passeio parece um pouco aquém das expectativas.
Depois de andar o dia todo, o chuveiro quentinho do hotel era uma tentação. Também tinha uma água bem quentinha no bidê, diria atéuma "água escaldante", e ele descobriu isso da pior maneira possível.
A montanha "Tronador", aparentemente a mais alta da região, ainda tinha neve. Então, vamos conhecer. Passeio contratado, saíram com máquina fotográfica em punho, sonhando com a guerra de bola de neve. Os argentinos sabem mesmo valorizar suas atrações turísticas. Um galho atravessado na estrada transforma-se em um "fragmento vegetal centenário testemunho de civilizações pré-colombianas digno de parada para registros fotográficos". Os paraíbas embarcaram nessa. Fotografa isso, fotografa aquilo, e a bateria da câmera acabou antes da metade do passeio. Não tem problema, o importante era viver o momento. Várias paradas depois chegaram ao pé da montanha, realmente linda, mas, como é? Não pode subir? Não pode por quê? Adiada a batalha de neve.
E o idioma, uma delícia. Entende-se tudo. Pararam para fazer algumas ligações internacionais, comprar jornal e etc. Depois de muito blá, blá, blá no telefone, o senhor que os atendia entregou a conta comentando:
Depois de andar o dia todo, o chuveiro quentinho do hotel era uma tentação. Também tinha uma água bem quentinha no bidê, diria atéuma "água escaldante", e ele descobriu isso da pior maneira possível.
A montanha "Tronador", aparentemente a mais alta da região, ainda tinha neve. Então, vamos conhecer. Passeio contratado, saíram com máquina fotográfica em punho, sonhando com a guerra de bola de neve. Os argentinos sabem mesmo valorizar suas atrações turísticas. Um galho atravessado na estrada transforma-se em um "fragmento vegetal centenário testemunho de civilizações pré-colombianas digno de parada para registros fotográficos". Os paraíbas embarcaram nessa. Fotografa isso, fotografa aquilo, e a bateria da câmera acabou antes da metade do passeio. Não tem problema, o importante era viver o momento. Várias paradas depois chegaram ao pé da montanha, realmente linda, mas, como é? Não pode subir? Não pode por quê? Adiada a batalha de neve.
E o idioma, uma delícia. Entende-se tudo. Pararam para fazer algumas ligações internacionais, comprar jornal e etc. Depois de muito blá, blá, blá no telefone, o senhor que os atendia entregou a conta comentando:
- ¿Muchas novias, heim?
Tradução: "Muitas
namoradas, heim?"
Ele não ouviu, não
entendeu e deixou para lá. Ela, muito entendida de espanhol, largou a pedrada: -
Si, muchas novidades.
O senhor continuou: -
¿Es muy celosa?
Tradução: És muito
ciumenta?
Ela, sem entender muito
bem o porquê da pergunta e completamente desnorteada, responde: - Si, muy
celosa.
Tradução do que ela
entendeu e pensava estar falando: “Sim, muito cheirosa”. Por hoje está bom,
pega o jornal e adios!
Não
dá para visitar a região sem pensar em saborear os vinhos, mesmo para os que
não são exímios apreciadores, como os paraíbas. Acompanhado de parrilla, fondue
ou truta, sempre ia bem. Mas foi num pequeno barzinho underground, intitulado
Che (do Guevara, só para esclarecer), ainda em Bariloche, em parceria com uma
pizza bem mais ou menos, que rolou o momento mais descontraído e prazeroso do
vinho, talvez o mais agradável momento a dois da viagem.
Sem rumo certo, foram parar em San Martin. Pura sorte. Trata-se de uma pequena cidade linda encravada num vale no fim dos "Sete Lagos", com gabarito de no máximo três pavimentos e arquitetura dos Alpes. Optaram por uma exploração by bike. O "tur" rendeu bons momentos, lindas vistas, lindas fotos e, para ele, dores na região dos "países baixos". De San Martin, agora, para o Chile. Destino: Pucon. Foi de lá que saíram para a expedição no vulcão Vila Rica.
Neste
dia tudo estava perfeito. Os paraíbas estavam se falando, o céu estava claro,
sem previsão de chuva ou neve, e o frio não chegava a ser assustador. A subida
não é só para profissionais, mais está longe de ser uma empreitada fácil, basta
dizer que muita gente não se atreve a ir e outros tantos ficam pelo caminho. A
cidade fica 800 metros acima do nível do mar, subiram mais 600 metros de carro,
400 metros de teleférico e 847 longos metros andando até o cume, de onde
puderam ver a cratera do vulcão, com 600 metros de profundidade. No grupo
haviam dois chilenos (os guias), uma australiana, um inglês, dois franceses,
uma colombiana, um tcheco e os dois paraíbas, os autênticos representantes do
Brasil. Também haviam pelo menos mais uns três pequenos grupos explorando o
vulcão naquele mesmo dia. Entre português, espanhol, inglês, portunhol e outros
dialetos improvisados, entenderam-se todos. Durante a caminhada, aos poucos, as
pessoas iam se distanciando, ficando algumas para trás, voltando a se reunir
novamente a cada parada. Cada trecho vencido era uma vitória da vontade de
estar lá, de chegar, de vivenciar tudo aquilo. De cima, sacudidos intensamente
pelo vento, entre a fumaça e um forte odor de enxofre, víamos a cratera, e ao
redor do monte, um imenso deserto de nuvens. Foi, sem dúvida, um desafio
recompensador e o momento mais emocionante da viagem.
No
Chile, ainda foram conhecer Santiago, depois voltaram para a Argentina,
passaram por Mendonza e finalizaram a viagem em Buenos Aires, apreciando um
elaborado espetáculo de tango. Tirando o que não prestou, foi tudo ótimo. De
qualquer maneira, viajar é mesmo sempre bom. Só para registrar: na volta,
chegaram no horário e não perderam o vôo.