Ele entrou na minha vida quase que por uma imposição. Nossos caminhos provavelmente espreitaram-se em muitas oportunidades, mas aguardaram o momento certo, mágico, para enfim, cruzarem-se.
Cheia de expectativas, iniciava uma nova página na minha vida profissional, em uma nova empresa, quando fomos apresentados. Confesso, não ouvi badalar de sinos, não senti calafrios e, posso supor, meus olhos não brilharam. Sua aparência não me atraiu e seu modo seco, impecavelmente profissional, que deu o tom de nossos primeiros contatos, não davam qualquer prenúncio da cumplicidade e afeto que alcançaríamos.
Aos poucos, como que tateando na penumbra, fomos relaxando. Eu, mais tímida e insegura no ambiente, limitava-me a assuntos de reuniões, troca de materiais técnicos e informações corriqueiras da empresa. Ele, querendo aproximação, arriscava temas sócio-políticos e piadas bizarras.
Assim, fomos nos chegando. Às vezes, com curiosidades e imagens de lugares longínquos e deslumbrantes ele me conduzia em viagens maravilhosas. Tinha também seus pontos fracos - todo mundo tem. Conseguia me tirar do sério com a insistência em me envolver em pirâmides e correntes e, pior, com a fixação em me evangelizar nos mais variados credos. Ainda assim, sua característica mais marcante era o humor. Amo quem me faz rir, quem com graça leva a vida e transforma infortúnios em momentos divertidos. Ele era assim, comigo e com todos. Extraía com perspicácia a comédia de nossa política, condição social e sexualidade.
Ah, por falar em sexualidade, nessa área nunca houve nenhum igual. Parecia não ter medo, não ter limites. Explorava, revelava, com sutileza e sensualidade, escorregando, por vezes, também na vulgaridade. Múltiplo, contraditório, diverso, polêmico. Esse era ele, assim éramos nós. Me perdi descobrindo todos os seus mecanismos e possibilidades.
Contudo, sua saúde era precária, sua estrutura genética desprivilegiada e seu sistema imunológico traiçoeiro. Como um ímã amaldiçoado atraía para si todos os vírus transeuntes. Já andava lento, disperso e, com freqüência, não estava acessível. Então, veio o golpe fatal. A liberdade de sua voz e seus pensamentos incomodou. A censura instalou o silêncio orquestrado pelo temor. Ele não resistiu.
Hoje, minha voz presa despede-se. Nossos amigos, em uníssono, choraram a limitação de nosso contato e agora choram a ruptura definitiva, com a imposição de sua substituição que culminou em sua morte sofrida. Descanse, sereno e convicto de que enquanto esteve entre nós foi um elo de integração e alegria.
Adeus, querido Lotus Notes, valoroso sistema amigo de intra e internet, nosso mensageiro remoto corporativo.
Cheia de expectativas, iniciava uma nova página na minha vida profissional, em uma nova empresa, quando fomos apresentados. Confesso, não ouvi badalar de sinos, não senti calafrios e, posso supor, meus olhos não brilharam. Sua aparência não me atraiu e seu modo seco, impecavelmente profissional, que deu o tom de nossos primeiros contatos, não davam qualquer prenúncio da cumplicidade e afeto que alcançaríamos.
Aos poucos, como que tateando na penumbra, fomos relaxando. Eu, mais tímida e insegura no ambiente, limitava-me a assuntos de reuniões, troca de materiais técnicos e informações corriqueiras da empresa. Ele, querendo aproximação, arriscava temas sócio-políticos e piadas bizarras.
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Ah, por falar em sexualidade, nessa área nunca houve nenhum igual. Parecia não ter medo, não ter limites. Explorava, revelava, com sutileza e sensualidade, escorregando, por vezes, também na vulgaridade. Múltiplo, contraditório, diverso, polêmico. Esse era ele, assim éramos nós. Me perdi descobrindo todos os seus mecanismos e possibilidades.
Contudo, sua saúde era precária, sua estrutura genética desprivilegiada e seu sistema imunológico traiçoeiro. Como um ímã amaldiçoado atraía para si todos os vírus transeuntes. Já andava lento, disperso e, com freqüência, não estava acessível. Então, veio o golpe fatal. A liberdade de sua voz e seus pensamentos incomodou. A censura instalou o silêncio orquestrado pelo temor. Ele não resistiu.
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