quinta-feira, 25 de março de 2010

A pinça da ponta dourada

Vamos falar agora de uma coisa realmente importante: a pinça. Sim, a pinça de tirar pêlos, um a um. Precisei da minha, que já estava comigo há uns quinze anos, para cuidar de um ferimento na pata da minha cachorra. Aos que dirão "eeecaaa!!!", devo informar que adoro este ofício de veterinária de fim-de-semana. Mas, voltando ao nosso assunto, fiquei sem pinça. Resignada, saí o quanto antes para comprar uma.
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Cheguei à loja toda displicente e pedi uma pinça. A atendente parou, me filmou da cabeça aos pés e, olhando-me com firmeza no fundo dos olhos, perguntou com um tom sóbrio e revelador:
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- A senhora quer “a pinça da ponta dourada”?
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Não foi uma pergunta qualquer, todo o contexto foi rodeado por uma aura tão especial que nesta hora o céu se iluminou de dourado ao som de uma linda melodia celestial. O quê seria “a pinça da ponta dourada"? Ainda perplexa, fui me dirigindo lentamente ao local onde ficavam as demais pinças. Neste momento a moça disse que não adiantava, “a pinça da ponta dourada" não ficava junto com as outras. Que ótimo! Uma pinça que não se mistura com qualquer um. Então ela foi ao caixa, pegou uma chave especial e andou até um armário lacrado. Destrancou o armário, abriu uma gaveta e sacou de lá um instrumento delicado, alongado e com deslumbrantes pontas douradas reluzentes que ofuscaram meu olhar. Ela colocou a relíquia na mão e esticou o braço para que eu pudesse pegar.
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Lentamente toquei com as pontas dos dedos na jóia, primando por um cuidado que não me é peculiar, segurando-a em seguida. Oh meu Deus, o que teria de tão especial aquela pinça? E o pior, quanto custaria? Provavelmente não seria para o meu bolso. Cheia de coragem, perguntei:
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- Quanto é?



- Veja bem, é R$10,00, mas é para a vida toda.


Eu sabia, enquanto as demais pinças não ultrapassavam os R$2,00, a pinça da ponta dourada era R$10,00. Tive que rapidamente fazer algumas considerações. Além de umas continhas básicas, pensei: se eu novamente precisasse da pinça para cuidar da patinha da minha cachorra, não teria coragem de usar a de ponta dourada para auxiliar na assepsia das feridas abertas. A pinça valeria a vida de minha cachorra? Acho que sim. Decidida, falei:


- Eu quero a pinça. Você divide no cartão?
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Saí da loja segurando a bolsa como quem protege uma preciosidade e fui correndo para casa experimentar meu novo brinquedinho. Chegando lá me dirigi diretamente para o espelho para usar a sobrancelha como cobaia, e devo reconhecer, não é propaganda enganosa. A ponta dourada se encaixa com precisão cirúrgica na base, juntinho da raiz do pêlo, puxando o cabelo inteirinho. A raiz sai todinha e o percentual de pêlos quebrados cai a zero. Me empolguei e sai arrancando os cabelinhos enquanto no espelho revelava-se uma nova mulher.
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Amigas, acreditem, é um verdadeiro milagre. O alto investimento inicial é integralmente recompensado pela inestimável satisfação de olhar aquela pele lisinha e livre de fiapinhos indesejáveis ao redor de uma sobrancelha de contornos perfeitos. Sem falar de outras partes do corpo que podem adquirir também contornos perfeitos. Mas fiquem muito atentas para não levarem gato por lebre. A pinça da ponta dourada é uma pinça longa, de design limpo, toda prateada, somente com as pontas douradas e brilhantes, uma verdadeira obra de arte. Concluindo, valeu os R$10,00 parcelados e o risco de vida permanente ao qual condenei minha cachorra. E São Francisco de Assis que me perdoe.