Ai “Jisus”! Não quero fazer alarde, nem muito menos bancar o “cavaleiro do Apocalipse”, mais me sinto impelida por minha responsabilidade social a dividir com o maior número de pessoas possível as informações que recentemente entraram em minha vida como uma avalanche.
Atualmente estou lendo, interessadíssima, uma publicação sobre os "sociopatas", ou podemos chamar também de "personalidades anti-sociais", ou "personalidades psicopáticas", ou outras tantas identificações, mas que referem-se à mesma coisa: os terríveis, assustadores e enigmáticos "Psicopatas". O livro é uma publicação séria, talvez um pouco sensacionalista e repetitiva, de uma psiquiatra que nos últimos tempos caiu nas graças da mídia. Em seu trabalho ela aborda os traços mais característicos da personalidade destes seres, a forma como costumam agir e o elevado potencial destrutivo inerente à sua natureza.
Segundo a autora, os psicopatas são indivíduos que têm suas funções cognitivas em perfeito estado, mas são desprovidos da capacidade de sentir afeto genuíno, ou, como ela mesma afirma, incapacitados de amar. Conseqüentemente, lhes faltam ética, moral, solidariedade, compaixão e por aí vai. Em geral são pessoas inteligentes, articuladas, sedutoras e agradáveis, mas não se iludam, para atender às suas ambições mais fúteis são dissimuladas e capazes de atos sórdidos, insensíveis e cruéis, planejados em detalhes e executados com precisão. Em geral, temos a tendência de associar a palavra psicopata àqueles “miseravões”, matadores sanguinários, tipo serial killer, mas a maldade pode ser bem mais sutil.
Até aí, tudo ótimo, afinal, informação nunca é demais. O problema é que, involuntariamente, alheia ao prudente distanciamento crítico, às vezes as informações começam a associarem-se a fatos da vida real, de nosso cotidiano, correndo o risco de extrapolar o limite da razoabilidade e criar um universo paralelo onde tudo e todos atingem facilmente a categoria de suspeitos, com sérios sintomas de psicopatia. Desde que iniciei a leitura, transformei meus ambientes de convívio em laboratórios e meus amigos, colegas e conhecidos em estudo de caso. Contrariando os que dirão que como psiquiatra sou uma excelente arquiteta, nas próximas linhas não vou me ater apenas a relatar fatos verídicos, e preocupantes, de pessoas que fazem parte do meu convívio. Instrumentalizada com os fundamentos recém adquiridos, vou me aventurar por terrenos movediços para uma leiga, analisando os desvios de caráter dos envolvidos.
Para começar, para qualquer pessoa com o mínimo de clareza e de bom senso, qual é o candidato número um a psicopata frio e calculista? O chefe, sempre, é claro! E quanto mais imediata for a chefia, mais elevado tende a ser o grau de psicopatia. A minha chefinha é um caso clássico. Ela é bonita, muito articulada e bem relacionada. Sorrindo, submete com requintes de crueldade seus subordinados às tarefas técnicas mais estapafurdias. As jornadas de trabalho propostas são absolutamente insanas, chegando a mais de trinta horas semanais, vampirizando todos até a última gota de sangue. Em geral, consegue manter a fachada de profissional equilibrada, mas quando a máscara cai, aos berros revela sua verdadeira face: ciumenta, possessiva e controladora. Em seu ambiente de trabalho é inadmissível reunir mais de duas pessoas sem sua presença, ou a confraternização é caracterizada como motim de cunho altamente subversivo, com sanções severas. Desconfio de suas ambições, mas pela frente ela vai se deparar com outro chefe, igualmente suspeito: o diretor do departamento. Alicerçado na inteligência privilegiada, na leitura dinâmica e no raciocínio extremamente célere, congrega rapidamente as informações manipulando-as conforme suas conveniências. Letrado em direito e na área um, usa sua habilidade com as palavras para justificar suas alterações comportamentais que culminam em rompantes de fúria, quando suas orientações expressas são sumariamente ignoradas. Se um sozinho é uma grave ameaça, os dois juntos constituem o prenúncio de problemas de dolorosas implicações.
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Uma característica constante nos elementos com esse distúrbio psíquico é buscar ocupar posições estratégicas para suas pretensões. Nesta linha de pensamento, uma função bastante almejada é a de secretária, que tudo ouve e tudo sabe. Na empresa que trabalho temos um exemplo. Ela secretaria os assessores da diretoria do departamento e, vamos considerar, “ô baixinha sangue ruim”. Essa pessoa não pode ser considerada exatamente uma psicopata. Pela estatura, ela poderia ser enquadrada, no máximo, como uma psico”patinha”. Para um olhar desavisado pode passar por uma mulher sã, desembaraçada e simpática, apesar de temperamental. Mas, determinadas atitudes denunciam sua perversidade sórdida. Por exemplo, sua recusa doentia em assinar por mim meu ponto de freqüência quando me atraso, negando o favor com absoluta frieza e insensibilidade. Isso não pode ser um comportamento normal de uma criatura que tem a capacidade de nutrir afeição, ainda mais porque o favor é suplicado com tanto carinho e emoção. Considero ela um perigo iminente para o grupo.
O quê dizer, então, de meu namorado? Por algum tempo aquela conversa mole me envolveu de uma maneira que impediu a compreensão racional dos fatos. Agora, começo a ter um entendimento melhor. Ele é capaz de atingir o êxtase em caloradas discussões travadas com call centers dos mais diversos produtos e serviços, em embates diários que chegam a durar horas, preterindo, inclusive, uma deliciosa companhia feminina. Além disso, um companheiro que não aparece com mimos surpresa em datas improváveis e que não leva café da manhã na cama para a sua amada, não pode ser boa coisa. Tecnicamente, poderia ser considerado como um psicopata de grau elevado, pelas conseqüências nefastas de suas ações, ou falta delas, num coração sensível. Mas vou enquadrá-lo inicialmente num grau moderado, pois os danos podem ser remediados caso ocorra uma imediata mudança de atitude, tipo um presentinho hoje mesmo.
Outro indivíduo exacerbadamente suspeito é o síndico do meu condomínio. As tais taxas extras só podem ser coisa de quem não tem uma gota de sentimento e afeto por nossos rendimentos. E a frieza e a indiferença com que somos avisados reforça minha tese. Geralmente são correspondências impessoais, como quem dialoga com uma caixa registradora, que fazem rodeios e mise-em-scène de motivos para no final nos golpear duramente. Esse senhor me preocupa e deve ser vigiado de perto.
Apesar da inquestionável eloqüência dos relatos e argumentos acima expostos, que baseiam minhas suspeitas quanto ao caráter patológico dos estudos de caso, devo registrar que o diagnóstico está numa etapa clínica bastante inicial, sujeito ainda a retoques. Contudo, já é possível constatar, mesmo sob a tutela do inseparável otimismo que me caracteriza, que o mundo é sim um lugar perigoso para passear, trabalhar e viver, e a natureza humana pode ser, por vezes, surpreendentemente desagradável. Portanto, concluo este aprendiz de laudo clínico afirmando que a palavra de ordem deve ser “cautela”, pois o inimigo espreita e o perigo pode estar ao seu lado.
Atualmente estou lendo, interessadíssima, uma publicação sobre os "sociopatas", ou podemos chamar também de "personalidades anti-sociais", ou "personalidades psicopáticas", ou outras tantas identificações, mas que referem-se à mesma coisa: os terríveis, assustadores e enigmáticos "Psicopatas". O livro é uma publicação séria, talvez um pouco sensacionalista e repetitiva, de uma psiquiatra que nos últimos tempos caiu nas graças da mídia. Em seu trabalho ela aborda os traços mais característicos da personalidade destes seres, a forma como costumam agir e o elevado potencial destrutivo inerente à sua natureza.
Segundo a autora, os psicopatas são indivíduos que têm suas funções cognitivas em perfeito estado, mas são desprovidos da capacidade de sentir afeto genuíno, ou, como ela mesma afirma, incapacitados de amar. Conseqüentemente, lhes faltam ética, moral, solidariedade, compaixão e por aí vai. Em geral são pessoas inteligentes, articuladas, sedutoras e agradáveis, mas não se iludam, para atender às suas ambições mais fúteis são dissimuladas e capazes de atos sórdidos, insensíveis e cruéis, planejados em detalhes e executados com precisão. Em geral, temos a tendência de associar a palavra psicopata àqueles “miseravões”, matadores sanguinários, tipo serial killer, mas a maldade pode ser bem mais sutil.
Até aí, tudo ótimo, afinal, informação nunca é demais. O problema é que, involuntariamente, alheia ao prudente distanciamento crítico, às vezes as informações começam a associarem-se a fatos da vida real, de nosso cotidiano, correndo o risco de extrapolar o limite da razoabilidade e criar um universo paralelo onde tudo e todos atingem facilmente a categoria de suspeitos, com sérios sintomas de psicopatia. Desde que iniciei a leitura, transformei meus ambientes de convívio em laboratórios e meus amigos, colegas e conhecidos em estudo de caso. Contrariando os que dirão que como psiquiatra sou uma excelente arquiteta, nas próximas linhas não vou me ater apenas a relatar fatos verídicos, e preocupantes, de pessoas que fazem parte do meu convívio. Instrumentalizada com os fundamentos recém adquiridos, vou me aventurar por terrenos movediços para uma leiga, analisando os desvios de caráter dos envolvidos.
Para começar, para qualquer pessoa com o mínimo de clareza e de bom senso, qual é o candidato número um a psicopata frio e calculista? O chefe, sempre, é claro! E quanto mais imediata for a chefia, mais elevado tende a ser o grau de psicopatia. A minha chefinha é um caso clássico. Ela é bonita, muito articulada e bem relacionada. Sorrindo, submete com requintes de crueldade seus subordinados às tarefas técnicas mais estapafurdias. As jornadas de trabalho propostas são absolutamente insanas, chegando a mais de trinta horas semanais, vampirizando todos até a última gota de sangue. Em geral, consegue manter a fachada de profissional equilibrada, mas quando a máscara cai, aos berros revela sua verdadeira face: ciumenta, possessiva e controladora. Em seu ambiente de trabalho é inadmissível reunir mais de duas pessoas sem sua presença, ou a confraternização é caracterizada como motim de cunho altamente subversivo, com sanções severas. Desconfio de suas ambições, mas pela frente ela vai se deparar com outro chefe, igualmente suspeito: o diretor do departamento. Alicerçado na inteligência privilegiada, na leitura dinâmica e no raciocínio extremamente célere, congrega rapidamente as informações manipulando-as conforme suas conveniências. Letrado em direito e na área um, usa sua habilidade com as palavras para justificar suas alterações comportamentais que culminam em rompantes de fúria, quando suas orientações expressas são sumariamente ignoradas. Se um sozinho é uma grave ameaça, os dois juntos constituem o prenúncio de problemas de dolorosas implicações.
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Uma característica constante nos elementos com esse distúrbio psíquico é buscar ocupar posições estratégicas para suas pretensões. Nesta linha de pensamento, uma função bastante almejada é a de secretária, que tudo ouve e tudo sabe. Na empresa que trabalho temos um exemplo. Ela secretaria os assessores da diretoria do departamento e, vamos considerar, “ô baixinha sangue ruim”. Essa pessoa não pode ser considerada exatamente uma psicopata. Pela estatura, ela poderia ser enquadrada, no máximo, como uma psico”patinha”. Para um olhar desavisado pode passar por uma mulher sã, desembaraçada e simpática, apesar de temperamental. Mas, determinadas atitudes denunciam sua perversidade sórdida. Por exemplo, sua recusa doentia em assinar por mim meu ponto de freqüência quando me atraso, negando o favor com absoluta frieza e insensibilidade. Isso não pode ser um comportamento normal de uma criatura que tem a capacidade de nutrir afeição, ainda mais porque o favor é suplicado com tanto carinho e emoção. Considero ela um perigo iminente para o grupo.
O quê dizer, então, de meu namorado? Por algum tempo aquela conversa mole me envolveu de uma maneira que impediu a compreensão racional dos fatos. Agora, começo a ter um entendimento melhor. Ele é capaz de atingir o êxtase em caloradas discussões travadas com call centers dos mais diversos produtos e serviços, em embates diários que chegam a durar horas, preterindo, inclusive, uma deliciosa companhia feminina. Além disso, um companheiro que não aparece com mimos surpresa em datas improváveis e que não leva café da manhã na cama para a sua amada, não pode ser boa coisa. Tecnicamente, poderia ser considerado como um psicopata de grau elevado, pelas conseqüências nefastas de suas ações, ou falta delas, num coração sensível. Mas vou enquadrá-lo inicialmente num grau moderado, pois os danos podem ser remediados caso ocorra uma imediata mudança de atitude, tipo um presentinho hoje mesmo.
Outro indivíduo exacerbadamente suspeito é o síndico do meu condomínio. As tais taxas extras só podem ser coisa de quem não tem uma gota de sentimento e afeto por nossos rendimentos. E a frieza e a indiferença com que somos avisados reforça minha tese. Geralmente são correspondências impessoais, como quem dialoga com uma caixa registradora, que fazem rodeios e mise-em-scène de motivos para no final nos golpear duramente. Esse senhor me preocupa e deve ser vigiado de perto.
Apesar da inquestionável eloqüência dos relatos e argumentos acima expostos, que baseiam minhas suspeitas quanto ao caráter patológico dos estudos de caso, devo registrar que o diagnóstico está numa etapa clínica bastante inicial, sujeito ainda a retoques. Contudo, já é possível constatar, mesmo sob a tutela do inseparável otimismo que me caracteriza, que o mundo é sim um lugar perigoso para passear, trabalhar e viver, e a natureza humana pode ser, por vezes, surpreendentemente desagradável. Portanto, concluo este aprendiz de laudo clínico afirmando que a palavra de ordem deve ser “cautela”, pois o inimigo espreita e o perigo pode estar ao seu lado.