Nota: todos os personagem e fatos desta novela são produtos de ficção e qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência.
Cena do capítulo anterior...
Cena do capítulo anterior...
Envolvida
pelo romantismo da música, Marja Consuelo deixou que seus pensamentos lhe
conduzissem a dez anos atrás, na misteriosa Polititican, quando teve seu coração
roubado. Cerrou, então, seus grandes olhos negros, imaginando por onde andaria o jovem
Felipe Augusto.
Capítulo 5
Cena 1
As pálpebras se abriram revelando os expressivos
olhos verdes. Por ele ficaria ainda alguns minutos perdido nos pensamentos que
lhe remetiam a dez anos atrás, na Floresta de Polititican, quando conheceu a
doce Marja Consuelo, mas os afazeres lhe chamavam.
Felipe Augusto tinha agora vinte e três anos e
também havia acumulado experiências de lugares distantes. Mas foi ainda mais
longe. Passou os últimos dez anos do outro lado do Atlântico, em Berlin, solo
alemão, onde foi morar com familiares da mãe para estudar Medicina na
conceituada Universidade de Berlin. Assistiu apreensivo aos primórdios do
partido nazista e antevia naquilo grandes problemas para sua segunda pátria.
Voltou para Diepin dos Montes trazendo na bagagem um diploma de médico, o
domínio do idioma alemão e a melhor receita de chucrute de toda a Europa.
Trouxe também consigo a vontade de através da
medicina amenizar o sofrimento da população mais carente da região. Entre os
mais sofridos, os empregados de seu
próprio pai. O jovem Felipe Augusto Escobar era o terceiro dos três filhos do
temido Don Carlos Frederico Escobar.
Depois da desilusão amorosa que amargou com Dona Ana
Amélia, Don Carlos Frederico constituiu família casando-se com Dona Karen
Guertrudes, com quem teve Alexandre
Ramon, Márcia Fernanda e o caçula, Felipe Augusto. Sua fazenda, La Cordinación
de la Plata, era um latifúndio produtor de cana de açúcar desde a época da
colônia, limítrofe à fazenda de Don José Anxieta.
Karen
Guertrudes: - Ahiba mi hijo! Tu padre te chama. Sabes que ele
detesta esperar.
Felipe
Augusto: - No se desassossegue madre! Sei como domar la
fera. E tengo tanta saudade de ti, que preferia quedarme na cocina para
ayudarle no preparo do chucrute.
Karen
Guertrudes: - Si hijo, yo mucho mais! Quero que me contes tudo
de mi querida Alemanha. Que saudade de Munique no fervilhar da Oktoberfest,
parecia que a cerveja nunca mais ia acabar.
Márcia Fernanda chegava na hora.
Márcia
Fernanda: - Entonces la saudade es solamente de mama?
Felipe
Augusto: - Ôôô Novinha - como Márcia Fernanda era chamada
por todos - de ti tambien.
Karen
Guertrudes: - Hija, vas tirar esse casaco de pele, ou vas
cozinhar viva dentro dele.
Márcia
Fernanda: - Mas não vou mesmo! Primeiro porque foi o
presente que mi querido hermano me trouxe da Europa, segundo porque es um
legítimo Chanel, e terceiro porque, se for esperar nevar nessas terras onde o
diabo esqueceu o cachimbo acesso, vou morrer velha com o casaco mofando no
armário. E mira madre como estoy guapa!
Karen Guertrudes e os dois filhos, Márcia Fernanda e
Felipe Augusto, era um núcleo incompreendido para Don Carlos Frederico. Os
três, de maneira discreta, eram generosos com os empregados, cuidadosos com os
animais e muito carinhosos entre si. Karen Guertrudes conheceu Don Carlos
Frederico Escobar ainda muito jovem e farrista, em uma das viagens de negócios do
fazendeiro pelo o estrangeiro. Os dois rapidamente namoraram e casaram em
Berlim. Ela, a contragosto, teve que interromper os estudos para mudar-se de
imediato para Diepin dos Montes. No México, pressionada por Don Carlos
Frederico, acabou dedicando-se apenas à casa e aos filhos. Para passar o tempo, produzia em casa a mais saborosa tequila da região, e ela fazia questão de provar cada engarrafado para garantir a qualidade.
Felipe Augusto, além dos olhos claros, havia herdado
da mãe o pragmatismo e o jeito reservado. Já Márcia Fernanda, não herdou nada
de ninguém. Não tinha nada da frieza e aspereza de seu pai, mas também não herdou
da mãe nenhum resquício de pragmatismo, e muito menos de reserva. Quando bebê,
nem sequer nasceu, ela estreou, e foi sucesso absoluto. A moça vivia a
organizar festas na fazenda, mesmo que fosse batizado de bonecas ou aniversário
dos animais de estimação. O que importava era a movimentação. Colecionava
periódicos de modismo, e gostava com paixão das películas de Hollywood e dos
artistas mais famosos. Contudo, de uns tempos pra cá, só pensava em namorar.
Nesta hora ouviu-se a voz que vinha do gabinete...
- Felipe Augusto!
Karen
Guertrudes: - Melhor ires hijo. Tu padre te chama e está
impaciente.
Cena 2
Quando Felipe Augusto chegou ao gabinete, encontrou,
além do pai, seu irmão Alexandre Ramon e Valnei Vicenzo, o capataz da fazenda.
Don Carlos Frederico não estava em seus melhores dias.
Don
Carlos Frederico: - Se toda vez que precisar falar-te tiver que esperar
que conclua su maquiagem a fazenda pára.
Felipe
Augusto: - Perdón padre pela demora!
Don
Carlos Frederico: - Felipe Augusto, agora que és un hombre feito, quiero
que assumas tu papel na fazenda.
Felipe
Augusto: - E qual seria este?
Don
Carlos Frederico: - Valnei Vicenzo está a me reclamar com frequência
que nostros empregados estão fazendo corpo mole. Todo dia é uma dor, uma doença
diferente. Acho que o poder de convencimento do capataz não está mais surtindo
tanto efeito como nos bons tempos. Quero que use sus conocimentos de medicina e desmascare esses
enroladores. Para os que realmente tiverem algum mal, lhes dê algo que suportem
a dor o suficiente para que produzam.
Felipe
Augusto: - Posso examiná-los padre, e saber o que passa.
Valnei
Vicenzo: - No será difícil! São sempre los mesmos cabróns.
Don
Carlos Frederico: - Muy bién, Alexandre Ramon e Valnei Vicenzo
vão lhe acompanhar.
Felipe
Augusto: - No és necessário ocupar Valnei Vicenzo!
Alexandre Ramon pode me apresentar os trabalhadores. Tengo certeza que Valnei
Vicenzo tem muitos outros afazeres que não podem esperar.
Valnei Vicenzo Boquerón sempre foi o capataz de Don
Carlos Frederico Escobar, mas nunca foi bem quisto por Dona Karen Guertrudes,
Márcia Fernanda e, principalmente, Felipe Augusto. Sua fama em Diepin dos
Montes era das piores e, apesar de já ter sido alvo de várias investigações,
acusado de ter passado desta para melhor trabalhadores da fazenda que
trabalhava e de outras fazendas, nunca conseguiram provar nada contra ele.
Quanto a Alexandre Ramon, o filho mais velho de Don Carlos
Frederico, este amadureceu e pegou no batente muito cedo em relação aos outros dois filhos. Aos dezesseis anos já coordenava a colheita e outras etapas da produção. Tudo porque tinha verdadeira idolatria pelo pai. Nem sempre concordava com seus
métodos e decisões, mas para agradá-lo, não contrariava nada.
Alexandre
Ramon: - No te preocupes padre. Vou cuidar disso de perto com
Felipe Augusto.
Cena 3
Yuri Willian foi um dos primeiros a chegar ao local
do acontecido. A notícia correu como rastilho de pólvora pela cidade:
"Ataque misterioso faz nova vítima em Diepin dos Montes". Apesar de
seu foco ser a pesquisa na Floresta Polititican, Yuri Willian entendia que
todos aqueles acontecimentos inusitados estavam correlacionados. Amontoados no
local estavam a mãe e o primo da vítima, alguns poucos curiosos e José Rodolfo
Colmenares, o jornalista do periódico mais sensacionalista da região. Yuri
Willian dirigiu-se diretamente a ele.
Yuri
Willian: - Mr. José Rodolfo, what happened? Digo, O que
passa?
José Rodolfo: -
Mais um ataque sangrento de SESABA. Já era tempo! Tinham meses que a entidade
não me fornecia nenhum mísero material de trabalho.
Yuri
Willian: - Por que concluístes que se trata de um ataque de
SESABA?
José Rodolfo: - Uma
ação covarde! Esta és su principal característica. O jovem saiu da lavoura e
foi encontrar os amigos. Deixou a taberna aproximadamente 11h30 da
noite e voltava para casa cortando caminho pela margem de Polititican, quando foi arrastado para dentro da floresta deixando apenas vestígios de sangue e parte
de sus vestimentas.
Yuri
Willian: - I don't think so! No me parece ter las
características dos desaparecimentos atribuídos à SESABA.
José Rodolfo: - Por
que dizes isto?
Yuri
Willian: - Todos os acontecimentos atribuídos à SESABA
ocorreram entre os meses de agosto e novembro, pegando parte do verão e parte
do outono, tendo alcançado maior intensidade sempre no primeiro terço do
outono, justamente o período mais úmido do ano. E hoje estamos no mês de abril,
em plena primavera.
José Rodolfo: -
?????????? - E o que tudo isso importa? O que posso lhe garantir gringo, é
que és el período que mais vendo periódicos.
Neste momento chegou Nelson Massado, o
Delegado da Província. Nelson Massado de La Mancha era Delegado
de Diepin dos Montes há três décadas. O que lhe sobrava e experiência, lhe
faltava em objetividade. Minucioso, detalhista e teimoso, tinha o olhar e o
faro apuradíssimos para descobrir pistas em detalhes que ninguém conseguia
enxergar, mas também era famoso por não conseguir concluir uma investigação. A
papelada de inquéritos e investigações se acumulavam sobre sua mesa enroladas
numa teia de fragmentos desconexos que ninguém conseguia interpretar.
Nelson Massado:
- Mr. Yuri Willian Morris Tolstoievski, vejo que
seus interesses vão muito além da Floresta Polititican!
Yuri
Willian: - Mucho gusto em vê-lo também, Mr. Nelson Massado.
Quando chegou também Ronaldo Alejando, assistente
de Yuri Willian, apressado e com um certo sentimento que havia perdido o melhor
da festa.
Ronaldo
Alejando: - O que perdi?
Nelson Massado:
- Muito bem, agora vejo que o baile está completo.
Mas vocês três já podem voltar para seus afazeres. Deixem um profissional
cuidar disso, não precisamos de sensacionalismo e nem tampouco de cientistas
neste ofício.
Yuri Willian: -
Perdón Delegado, mas tengo que discordar. A ciência pode lhe ajudar muito neste
ofício. Na América vários casos complicados têm sido desvendados por intermédio
da ciência.
Nelson Massado:
- Em México és diferente. A força da lei resolve os
casos.
José Rodolfo: (com
ironia) - Temos visto!
Nelson Massado fechou a cara. Nesta hora Ronaldo
Alejando pegou os trapos que restaram da vestimenta da vítima, estendeu e
perguntou para Yuri Willian.
Ronaldo
Alejando: - O que lhe parece?
Yuri
Willian: - Parece que a camisa foi rasgada em tiras com
voracidade por algo pontiagudo e afiado. Tem características de um ataque de animal, e o rasgo parece ter sido feito por garras.
José Rodolfo: - Mas
o jovem era muito grande e forte. Eu o conheço desde criança. Precisaria ser um
animal muito forte.
Nelson Massado:
- Um urso poderia fazer isso.
Yuri
Willian: - Sem dúvidas! Um urso adulto seria a explicação
mais plausível. Mas ursos não compõem a fauna desta região, e mesmo para
Polititican, onde tudo parece possível, um urso adulto surgir do nada no bioma
seria pouco provável.
Yuri Willian pensou um pouco e continuou...
- Ontem foi "a
strange night". Como diria...???
Ronaldo
Alejando: - Uma noite estranha!
Yuri
Willian: - Sí! O ar estava denso e no céu não havia uma
única estrela. A lua, que ontem era um círculo geometricamente perfeito, brilhava
majestosamente solitária.
Rodolfo
Ruan: - Na verdade foi uma noite sinistra. Ouvi uivos
assustadores até meia noite, e depois, do nada, os uivos pararam.
Nelson Massado:
- Aproximadamente a hora que o rapaz sumiu.
Nesta hora foi como um estalo para Nelson Massado, José
Rodolfo e Ronaldo Alejando. Os três mexicanos se olharam e exclamaram juntos:
- Casac-Ivil!!!
José Rodolfo: -
Claro! Tudo se encaixa. Não poderia ser outra coisa.
Nelson Massaulo:
- Deixe de crendices! O que queres são pretextos
para histórias mirabolantes em seu periódico.
Yuri
Willian: - O que é "Casac-Ivil"???
Ronaldo
Alejando: - É uma velha lenda mexicana, uma herança dos
povos Maias. Diz a lenda que toda vez que a comunidade vivenciar grande
sofrimento por desigualdades, pobreza e opressão, a fera na forma de um
lobisomem surgirá para dizimar o sofrimento com violência.
Cena 4
- Olha a manchete! Olha a manchete! Ataque do
lobisomem Casac-Ivil faz vítima em Diepin dos Montes!
Ao longe, do portão da fazenda Directiva Harmoniosa, ouvia-se Cauê Sancho Pança, o moleque que passava de
bicicleta entregando os periódicos. O anúncio em alta voz chamou a atenção de todos na fazenda.