sábado, 25 de dezembro de 2010

Onde vende o espírito de Natal?


Acordei oito e meia a fim de ter tempo suficiente para tomar café da manhã com calma e me arrumar. Era o dia vinte e três de dezembro e precisava estar pontualmente às dez horas da manhã na entrada do estacionamento do shopping, exatamente a hora que abria, para encontrar facilmente uma vaga de estacionamento e ter tempo suficiente para comprar tudo até uma da tarde. Na minha lista de presentes de Natal havia vinte e duas pessoas. Para alguns, era apenas uma lembrança; para outros, amigos secretos, os presentes tinham faixa de preço pré-determinada; e outros, estes muito especiais, os presentes precisavam ser igualmente especiais. Considerando que tinha três horas para a empreitada e vinte e duas pessoas para presentear, tinha então oito minutos e alguns segundos para cada presente. Entendam, quero dizer menos de nove minutos para procurar, avaliar, decidir, pagar e embrulhar lindamente cada regalo. Era praticamente um desafio olímpico, um pentatlo natalino. Tudo bem, eu estava animada e o astral estava ótimo. Muito nova assimilei com convicção o toque de sabedoria de Lewis Carroll, compartilhado em "Alice no país das maravilhas", e não raro costumo acreditar em seis coisas impossíveis antes do café da manhã. Vamos às compras!

Na entrada do estacionamento já havia uma pequena fila, mas consegui entrar rapidamente e estacionei sem maiores problemas. No shopping, o movimento crescia visivelmente a cada minuto. Naquele ritmo, antes das cinco da tarde o prédio já teria explodido pressionado pelo acúmulo de milhares de corpos querendo ocupar exatamente o mesmo espaço no universo. Alguns presentes surgiam como mágica, um verdadeiro milagre de natal, enquanto outros escondiam-se como o diabo foge da cruz. Cada nome riscado na lista era comemorado como um prêmio num sorteio. Mas o tempo estava passando, e passando bem rápido, e ainda haviam tantos nomes. Meu otimismo estava cada vez mais tímido e o desespero já mandava torpedos pelo celular. Das oito lojas que entrei, seis tinham fila para pagar. Resolvi, então, trabalhar por atacado e numa única loja escolhi cinco presentes.

Na fila, que era bem grande, teria tempo suficiente para reavaliar a lista, fazer algumas ligações, planejar o dia e descansar. Como disse antes, "teria", mas o frenesi histérico de compradores desesperados e vendedores atordoados só conseguia inspirar em mim a angústia. Estava estática contemplando o movimento insano, um pouco selvagem, de clientes disputando produtos, vendedores e vaga na fila para pagar, quando pintou a curiosidade: "onde será que vende o tal espírito de natal?"

Era véspera de Natal, data que comemoramos o nascimento de Jesus, nos confraternizamos fazendo votos de felicidade e vislumbramos a possibilidade de recomeçarmos, de fazermos melhor, seja lá o que for. Como é exatamente que isso funciona? Chego em casa, tiro a roupa de gladiador impiedoso, a que saiu para disputar presentes a tapas, e visto a cândida roupa de "dias melhores virão". Assim? Simples assim?

Por coincidência, havia assistido há alguns dias no noticiário da TV uma matéria sobre o aumento do estresse no mês de dezembro. A reportagem apresentou alguns eventos tristes de discussões despropositadas no metrô e no trânsito, que acabam em pancadaria, acontecidos justamente em dezembro, associando os contratempos aos distúrbios do período. Os psicólogos entrevistados atribuíram o estresse aos balanços de vida que costumamos fazer nesta época. Se os especialistas estiverem certos, os balanços de vida andam acusando um resultado bastante negativo. Contudo, todos os mortais entrevistados culparam as compras e festas de fim de ano, alegando que os gastos extras, o aumento do movimento, as expectativas em torno dos preparativos das festas e o tempo exíguo para resolver tudo, geram desconforto, ansiedade e nervosismo, entre outras sensações desagradáveis.

Como não sou melhor do que ninguém, também saí do shopping estressada. Demorei mais do que podia e não comprei tudo que precisava. No carro, ia ridicularizando o espírito de Natal, questionando o próprio Natal, achando papai Noel um velho gordo e capitalista, e mandando Lewis Carroll tomar naquele lugar, junto com suas pérolas de sabedoria. No auge de minhas elucubrações céticas e cítricas começa a tocar no rádio "O Bom Velhinho", cantada por Dominguinhos. Imaginem, eu querendo desmascarar "barba branca", que não compra nada, não faz nada, e leva todos os louros, e Dominguinhos cantando:

"Como é que papai Noel não se esquece de ninguém, seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem".

Fala sério! A princípio entendi como uma provocação do "caba" e tive o impulso de desligar o rádio antes que começasse a desfiar sobre ele meu repertório de impropérios. Mas vocês sabem, o pernambucano com chapeuzinho de cangaceiro tem aquele jeitinho todo meigo e aquela voz doce como um doce de cupuaçu, que acabou operando em mim uma hipnose súbita, e não me deixou desligar. Fiquei lá, congelada, ouvindo ele cantar repetidamente: "botei meu sapatinho na janela do quintal, papai Noel deixou meu presente de natal". Devaneando, pensei: como pode? Dominguinhos é do interior de Pernambuco, cresceu na labuta e aos seis anos de idade já tocava sanfona com os irmãos em feiras e portas de hotéis de Garanhuns. Muito provavelmente papai Noel não era para ele um herói de natal e, no entanto, ele grava "O Bom Velhinho", conseguindo imprimir na interpretação tanta ternura. Claro, meu coração mole derreteu como um tablete de manteiga no asfalto do meio dia. Me senti o substrato do cocô do cavalo do bandido, uma ser sem coração e sem pátria, insensível, dura, a última das criaturas de Deus.

Voltei para casa reflexiva. Ao longo do dia e meio que faltava para a noite de Natal reformulei as idéias e coloquei cada coisa no seu lugar: a mídia, o comércio, o papai Noel, o espírito de Natal e o Natal, com toda sua simbologia e todo o seu significado. Quanto aos presentes, saí para comprar mais alguns, sem estresse, longe do shopping, e tudo deu certo. Na festa, desejei a cada um que abracei sinceros votos de Feliz Natal.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Mas quem é ruivo na família?


Pois então, sou loura, meu ex-marido moreno claro e meu filho nasceu ruivo, ruivinho mesmo, com lindos cabelinhos cacheados cor de cenoura, que permanecem até hoje, aos seis aninhos. É uma coisa linda de ver, mas bastante difícil de explicar. Toda vez que ele é apresentado a alguém a conversa rola mais ou menos assim:

- Mas que lindo ele é! Você era ruiva?

- Não!

- O pai é ruivo?

- Não!

- E quem é ruivo na família?

- Ninguém!

Diante do impasse, para quebrar o clima das inúmeras interrogações que ficam pairando no ar, eu geralmente completo:

- Mas nós tínhamos um vizinho ruivo que era um espetáculo!

Todo mundo ri e fica mais a vontade, mas permanece aquela idéia fixa sobre mim: "puladora de cerca".

A história também me intrigava, mas não tinha nenhuma possibilidade de troca na maternidade, pois eu tinha visto ele sair de mim já ruivo depois de um demorado parto natural. Da mesma forma, não havia qualquer dúvida sobre a paternidade. Numa hora dessas somente a intervenção divina para explicar ou, quem sabe, alguma pegadinha da genética. Diante da dificuldade de comprovar intervenções divinas fui pesquisar a ciência dos genes.

Segundo consta, o fenômeno conhecido como "rutilismo" é provavelmente o resultado de uma mutação genética encontrada no décimo sexto cromossomo, o MC1R. Para que uma criança nasça ruiva é necessário que ambos os pais tenham a versão mutante do gene, e mesmo assim não existe nenhuma garantia que aconteça, visto que o gene é recessivo. Tente lembrar daquela aula de biologia do segundo grau, com os tais “azinho” e “azão”, heterozigotos e homozigotos, que metade faltou e a outra metade não prestou atenção. Falando de uma forma mais romantizada, o gene ruivinho não é muito eloqüente ao defender sua vez na fila, e só consegue se impor junto com seus pares. Ele pode ficar lá, escondidinho no organismo de indivíduos morenos ou loiros por várias gerações, esperando resignado a sua vez. Talvez por isso quando conseguem uma chance de surgir para o mundo são verdadeiras pimentas. Estão simplesmente tirando o atraso de gerações no silêncio e reclusão. Agora as coisas começavam a fazer sentido e reforçavam inclusive o depoimento de minha avó. Segundo ela, uma senhora de lindos olhos azuis piscina e cabelos que já foram castanhos claros, seu irmão e toda a sua descendência eram verdadeiramente ruivos ferrugem. E eu que sempre acreditei que ela havia carinhosamente inventado essa historinha para quebrar meu galho.

Somente isso já me dava condição de respirar mais aliviada. Apesar de ser uma conversa comprida e um pouco técnica demais para abordar todas as vezes que precisasse apresentar meu filho, pelo menos podia dizer que havia uma explicação plausível. Mas já que estava com a mão na massa, envolvida com minha pesquisa, não parei, e resolvi conhecer um pouco mais sobre o mundo e as especificidades dessas criaturas avermelhadas.

Descobri, por exemplo, que podemos descender em grande parte de ruivos, pois o tal MC1R, o gene que ao sofrer mutação produz cabelos vermelhos, foi encontrado numa análise de fósseis do homem de Neandertal, mas achei que a informação não acrescentou muito na minha cultura rubra. Gostei mais de saber que apenas 4% da população mundial é ruiva, com maior incidência na Escócia, onde um a cada 10 habitantes é ruivo. Eu bem que procurei, mas não encontrei nenhum estudo que indique o percentual dessas criaturas no Brasil e, especificamente, na Bahia, mas a julgar pelo entusiasmo que causam, acredito ser um percentual baixíssimo.

Por algumas ocasiões nesta década foi divulgada pela internet a provável extinção dos ruivos, talvez para aquecer o mercado de tintura para cabelos, com previsão para não haver mais nenhunzinho em 2060. Que absurdo, eu mesma sou a primeira a contestar, pois neste ano meu ruivinho estará com apenas 57 anos, na flor da idade e, mesmo que seus pêlos já estejam precocemente brancos sem possibilidade de identificação de rutilismo, ele, se Deus quiser, ainda estará aí com toda a disposição para perpetuar a espécie. Na verdade, o que acontece é que o gene, por ser recessivo, pode se tornar raro, mas não se extinguir, a menos que os ruivos ou portadores desta herança genética, desiludidos da vida, parem definitivamente de se reproduzirem. De qualquer forma a notícia, sem qualquer evidência científica sólida, não se sustentou.

No Brasil, um grupo de atores ruivos, com o bom humor que nos é característico, aproveitou a deixa e reivindicou, entre outras coisas, o direito a meia-entrada em dermatologistas, a isenção de imposto de renda para quem tem mais de 283 sardas no rosto e o firme compromisso do governo de aumentar a taxa de natalidade de crianças ruivas no país. Muito justo.

Mas voltando ao assunto da pimenta, busquei na pesquisa alguma explicação para a comum relação entre os pequenos ruivos e o temperamento hiper agitado, que quase sempre leva à carinhosa denominação de “pestinhas”. Nesta empreitada eu largava com uma ligeira vantagem, pois se fosse necessário um estudo de caso poderia lançar mão de meu exemplar caseiro e meus seis anos de observação muito próxima. Olhei, fucei, confrontei e nada. Não há qualquer fundamentação científica que ajude no desenvolvimento da hipótese. Poderia até afirmar que fiquei ligeiramente inclinada a dizer que tudo não passa de um mito criado pelo cinema, se minha experiência pessoal não gritasse justamente o contrário. Além de tudo, se não bastasse o talento natural para pegar fogo, o comportamento ainda é inflamado pelo famigerado apelido “cabelo de fogo”. Meu filhote mesmo adora o codinome, se sente o próprio e incorpora o personagem com absoluta desenvoltura.

Contudo, de todas as curiosidades que encontrei o que mais me interessou e que realmente pode ter um rebatimento prático importante é que os ruivos têm mais resistência a sedativos, precisando, em média, de vinte por cento a mais da dose de anestesia. Uma explicação é que a mesma mutação que interfere na pigmentação também poderia estimular a produção de um hormônio relacionado à dor. A outra possibilidade é um pouco mais complicada. De acordo com esta, pelo funcionamento incorreto do gene a melanina não tem um ponto de recepção ao qual se combinar, levando os pigmentos a procurarem outros receptores assemelhados para conectarem-se, como receptores de sinais de dor no cérebro. A conexão falha entre os pigmentos e os receptores de dor pode ser responsável pelo estímulo excessivo às respostas cerebrais à dor, levando a maior necessidade de anestesia. Olha só, uma característica física aparentemente tão despretensiosa influenciando numa questão realmente relevante no funcionamento do organismo. De qualquer forma, antes de sairmos super dopando os vermelhinhos, vale a pena discutir com os médicos para sabermos como isso é tratado pra valer.

Devo dizer que minhas horas de pesquisa foram bastante proveitosas. Agora sei que não posso divulgar que tenho em casa uma linda criatura em extinção, mas ainda posso afirmar tratar-se de um espécime raro, que também é muito chique. Além disso, conheci mais sobre as curiosidades do biótipo de meu pequeno, adquiri informações importantes sobre sua constituição genética e, melhor de tudo, me libertei definitivamente do rótulo de “puladora de cerca”. Hoje, quando ouço aquela maliciosa perguntinha “mas quem é ruivo na família?”, respondo tranquilamente sem me apertar:

- Veja bem, eu posso explicar!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Crônicas de viagem IV: Cidade Maravilhosa, em família



















Cristo redentor,
Braços abertos sobre a Guanabara...

Dentro do avião, sobrevoando o Rio de Janeiro, é inevitável cantarolar mentalmente a canção de Tom Jobin e Vinícius, sabiamente chamada de "Samba do Avião". Não sou carioca, nunca morei lá e minha ascendência não tem nem um pezinho no Rio, mas sou brasileira e não obstante o distanciamento genealógico e geográfico, a metrópole muito me emociona. Já havia passeado pela cidade outras quatro vezes, mas desde a última visita, lá se vão dezenove anos, e esta ida tinha algumas peculiaridades muito especiais. Levei meu pequeno, Cauê, com seis anos, e a viagem, com a desculpa de comemorar o aniversário de Karina, uma de minhas queridas cunhadinhas, reuniu toda a família mais próxima: papai, mamãe, meus três irmãos - Ricardo, Renato e Eduardo, minhas cunhadas - Lígia e a aniversariante, e minhas cinco sobrinhas - Taíssa (16 anos), Amanda (quase 15), Camila (11), Luiza (11) e Duda (4).

A programação era alugar três carros no aeroporto e ir direto para Búzios, onde ficaríamos quatro dias. E assim foi. Saímos no começo da tarde guiados por Ricardo, que além de ser naturalmente muito bem orientado, carregava com ele nosso único GPS. Esses aparelhinhos são ótimos, mas um tanto sistemáticos. Se não for tudo exatamente como eles querem a conversa desanda. Enquanto os satélites chegavam a alguma conclusão sobre a direção a tomar, Ricardo consultou um GPS alternativo na estrada. A morena, do alto de seu um metro e oitenta, indicou o rumo certo e tudo voltou ao eixo. Na rota da região dos lagos chegamos à Búzios sem maiores contratempos. Já havia passado um carnaval no balneário e ao retornar tive novamente a mesma impressão: ô lugarzinho abençoado!

Nos acomodamos na pousada ainda encantados com a paisagem, a cidade, as edificações, tudo um charme. Cauê estava excitado com a movimentação da hospedagem e queria ver tudo ao mesmo tempo, a cem kilômetros por hora, sua velocidade habitual. Ainda com a memória de um ano atrás, quando hospedou-se numa pousada na praia de Jururê, próximo à Florianópolis, num quarto coladinho ao do tio Ricardo, saiu de nossos aposentos gritando tio Ricardo, tio Ricardo, e já foi abrindo a porta e entrando no apartamento junto ao nosso, sem me dar tempo de avisar que não era lá. No mesmo pé que entrou, saiu, mudo e branco como uma vela. Pegou o vizinho gringo de cueca.

Antes de sairmos para o jantar, que ainda era o almoço, recebemos a visita de Willian, Paula e Felipe, amigos de Eduardo e Lígia, com quem aproveitamos o drink de boas vindas oferecido pela pousada apreciando a vista dos barquinhos coloridos ancorados na praia da Armação. O festivo barman, muito conversador e enturmado, contou vários casos e comentou comigo:

- As crianças são animadas, mas aquele ruivinho é “parada dura”.

Resignada, respondi: - O ruivinho é meu.

O primeiro passeio foi pela Orla Bardot, que percorre toda a praia da Armação. O nome é uma homenagem à atriz francesa Brigitte Bardot, que esteve em Búzios na década de sessenta. E passeando pela orla, quem encontramos? A própria: Brigitte. É verdade, ela estava um pouco indiferente, dura, fria. Nem ligamos, enquanto ela ficava lá, toda estátua apreciando a vista, nos aproveitamos de sua presença e tiramos muitas fotos. Mas com Duda a conversa foi diferente. Rolou empatia instantânea e a pequena pegou no maior papo com aquele duro metal. Contou sobre nossa viagem, perguntou sobre ela e a convidou para ir conosco. Diante do absoluto silêncio de sua interlocutora a baixinha foi embora, mas não esqueceu. De vez em quando perguntava pela Brigitte, se preocupava com ela sozinha na chuva e em todos os passeios lembrava: - e se a gente convidar a Brigitte?

No dia seguinte, aproveitando o movimento do fim de semana fomos para a praia de Geribá e o anunciado passeio de barco ficou para a segunda-feira. Como combinado, na segunda nos mandamos para o píer e ficamos esperando Renato, que foi comprar o recarregador da bateria da máquina fotográfica. O recarregador ele não conseguiu, mas conseguiu deixar a gente esperando bastante. Por fim, considerando o tempo que estava nublado e um pouco instável, o comandante do barco sugeriu que deixássemos o passeio para o dia seguinte. Sem problemas.

Se na segunda o tempo não era promissor para um lindo passeio de barco pelas ilhas e praias de Búzios, na terça-feira era, no mínimo, desaconselhável. O dia amanheceu frio, chovendo e ventando. Mas não saímos dos quatro cantos do país para chegar lá e nos assustarmos com qualquer chuvinha. Comandante, queremos ir! Renato, para não fugir a regra, nos deu uma canseira novamente esperando ele que, desta vez, foi numa farmácia. A mais distante que ele achou.

Contrariando todos os prognósticos, o passeio, que tinha tudo para ser um desastre, foi maravilhoso. No barco era só a família e cantamos, dançamos, almoçamos e brindamos o aniversário de Karina, com ou sem chuva. Mauro, o comandante, carioca da gema, ia nos falando sobre o balneário. A aldeia de Armação de Búzios remonta aos mil e setecentos, quando era uma colônia de pesca de Baleias através de um mecanismo que eles chamam de armação, daí o nome do local. Apesar de hoje soar como um absurdo ecológico a pesca de baleias, era um processo artesanal de pouco impacto, que foi instinto ainda no século XVIII, quando chegaram à costa do Rio de Janeiro os navios baleeiros norte-americanos que, estes sim, quase extinguiram a espécie no período. Praias dos Ossos, Azeda, João Fernandes, das Virgens, da Tartaruga, ilha Feia, entre outros, percorremos o litoral recortado da península, repletos de enseadas protegidas pelo relevo, parando em vários lugares. A exceção de Renato e Karina, todos, não obstante o frio e a água geladíssima, caíram no mar. Papai e mamãe, fazendo bonito, chegaram a nadar até a ilha Feia, que nem é tão feia assim. Durante boa parte do passeio o comando do timão foi de Cauê, que se saiu muito bem. Além disso, nos atualizava constantemente sobre a existência e a profundidade dos peixes próximos, que ele checava a cada minuto pelo radar. Num momento coruja, fiquei observando minhas sobrinhas, já tão grandes e lindas, cada uma a seu jeito. Taíssa é a contestadora, Amanda a general. Camila tem um charme todo maroto e Luiza é pura meiguice. Sobre Duda, poderia dizer que ela é loura, e isso bastaria para ela, mas na verdade é muito mais.

Na quarta-feira estava programada a volta ao Rio, para assistir à noite o Fluminense jogar contra o Vitória no Maracanã, pela sexta rodada do Brasileirão de 2010. Apesar da correria de três carros em comboio pelas vias expressas do Rio, foi tudo bem até a parada para o almoço, num restaurante no Aterro do Flamengo. O Renato, claro, nos deixou esperando novamente, desta vez uma hora, enquanto ele foi comprar o bendito recarregador da bateria. Quando saímos, já com o estado de nervos alterados, faltou combustível em um dos carros, especificamente o que eu guiava, e mal deu tempo de chegar para o acostamento. Resolvida esta etapa, fomos em direção ao hotel, com o horário começando a apertar para o jogo. Mas esse, definitivamente, não era o meu dia de sorte. Em uma das sinaleiras fiquei para trás. Aí começou: telefona para um, liga para outro, ninguém atende, os celulares descarregando, o único com carga perdido dentro do carro tocando insistentemente sem ser localizado, todos falando ao mesmo tempo, ninguém se entendendo e a tolerância atingindo o nível zero, completamente perdidos pela cidade. Quando nos encontramos novamente já estávamos perto do hotel. Mamãe que, toda desligada, já havia entrado em um quarto alheio na pousada de Búzios, novamente no hotel do Rio, procurando o banheiro do seu quarto, entrou no quarto do vizinho, que era conjugado e estava com a porta destrancada. Sorriso amarelo e muitas desculpas resolveram o imprevisto. Enquanto isso, no quarto que eu dividia com Cauê e Renato, estávamos encantados com a vista de frente para a baía da Guanabara. Cauê "futucando" todas as novidades que encontrava, me perguntou sobre uma caixinha que, a princípio, olhando por alto, também não identifiquei o que era. Daqui a pouco ele chegou com o mistério esclarecido:

- Olha mãe, é para proteger a lanterna, para não molhar.

Peguei a embalagem para ver. Era um preservativo com instruções de uso ilustradas na caixa. Sobre a linda vista, depois descobrimos que o quarto de frente para a baía tinha sido especialmente reservado por Ricardo para papai e mamãe, e, por equívoco, nos mandaram para lá. Melhor relaxar e aproveitar.

Saímos para o Maracanã uma hora antes do jogo e aprendemos uma dura lição: nunca subestime um engarrafamento numa grande cidade. O trânsito não estava parado, mas estava quase. No carro que fui ficou logo clara a divisão dos grupos. Papai e Eduardo eram os pessimistas, mamãe e Taíssa eram as neutras e, no fundo do carro, Lígia, Duda e eu, éramos as otimistas, animadíssimas. Os pessimistas iam praguejando: “já perdemos o primeiro tempo”, “vamos perder o jogo”, “os carros não andam”, “vai chover”, “é capaz de alagar as ruas”. As neutras iam rindo dos dois grupos. As otimistas iam cantando: “O Maraca é nosso! Há, há, hu, hu! O Maraca é nosso! Há, há, hu, hu!” Depois do gol do Fred no primeiro tempo, que ficamos sabendo pelo rádio, adaptamos a música. “O Fred é nosso! Há, há, hu, hu! O Fred é nosso! Há, há, hu, hu!” E não tinha nada mais engraçado que ver Duda, aquele projeto de gente falando toda animada: “- Amiiiiga, o Fred é lindo!!!!” Para matar de raiva seu pai, um flamenguista doente.

Chegamos ao Maracanã no intervalo do jogo, com o placar 1x0 para o Flu. Encontramos com o resto da turma e Willian, o amigo do Eduardo, e fomos correndo para a arquibancada. Na entrada, uma bela surpresa. Tocava no som do estádio o hino do Fluminense. Foi de arrepiar. Papai, Amanda, Camila, Luiza, Ricardo, Renato e eu subimos a rampa que dava acesso à arquibancada cantando a plenos pulmões. Só para registrar, os únicos que desandaram e não são fluminenses na família são os flamenguistas Eduardo, Ligia e Taíssa. Duda ainda está confusa.

Ao entrarmos na arena, que visão! O Maracanã é realmente tudo que sempre ouvi falar. Um templo apoteótico do esporte que mexe com as nossas emoções. Recomeça o jogo. Tudo que ficamos sabendo do primeiro tempo não se repetiu no segundo. O Flu, que havia começado o jogo com boa movimentação, toque de bola e ameaçador, voltou do intervalo com o pé no freio e não assustava ninguém. O resultado foi o crescimento do Vitória, que aos 39 minutos carimbou o gol: 1x1. Mas nosso otimismo não foi em vão e o sofrimento durou muito pouco. Três minutos depois, Alan não desperdiçou sua chance e marcou: 2x1 para o Flu, placar final. E enfim pudemos conferir o estádio sacudindo as bandeiras tricolores ao maravilhoso som de gooooooolllll!!! Foi a primeira vez que fui ao Maracanã, mas a mamãe, ao tirar por seus comentários, foi a primeira vez que ela ouviu falar em futebol. Toda interessada, perguntou:

- Almiro, quem é aquele homem de camisa amarela correndo no campo?

Um tempo depois, indignada, ela quis saber: - Por que o jogador do Flamengo não parava de segurar o jogador do Fluminense?

Mais na frente, assustada e preocupadíssima quando um jogador caiu: - Ai meu Deus, o quê vão fazer agora?

E nós ficamos a nos perguntar: - Quem se candidata a explicar o impedimento?

Uma regra de quase todas as viagens é desregular completamente a rotina de alimentação, e nessa excursão não foi diferente. Mudaram os horários, as quantidades ingeridas e, principalmente, a qualidade dos alimentos. Experimentamos muitos peixes, mariscos e saborosos temperos exóticos. Em um desses almoços, num restaurante muito conceituado do Leblon, papai escolhia com todo o cuidado seu prato, pois apesar de muito apreciar peixes e mariscos, tem uma séria alergia a camarão e afins. Depois de olhar e analisar cuidadosamente, encantou-se com um prato à base de “cavaquinha”. Em dúvida, perguntou:

- Elcy, cavaquinha é peixe ou marisco?

Mamãe: - Acho que é peixe e pelo jeito deve ser delicioso. Prova Almiro!

Animadíssimo, ele pediu o “peixe”, e como o casal tem um rol de conhecimentos bem mais amplo que os nosso, ninguém questionou. Foi só acabar de comer, na mesma hora ele começou a sentir algo incomodando. Tomou imediatamente um ante-alérgico oferecido por Karina. O remédio deve ter diminuído os efeitos da reação alérgica mas não a impediu completamente. Em poucas horas sua boca fazia inveja em Angelina Jolie e os olhos não deixavam nada a dever para Rocky Balboa na derradeira luta de cada um dos episódios de sua saga. A cavaquinha, que agora sabemos tratar-se de um crustáceo de alto potencial alergênico, rendeu uma noite de cama para o papai e alguns dias com os olhos ainda um pouco inchados.

Durante a estadia fomos ainda no Jardim Botânico, nas pedras do Arpoador, na Lapa, na feirinha de Ipanema, assistimos algumas peças e passeamos de bondinho até o morro da Urca e o Pão de Açúcar. Nesta empreitada, do alto do Pão de Açúcar, contemplando com Cauê a grande cidade recortada por morros, vegetação e mar, cheguei próximo ao seu ouvidinho e sussurrei:

- Olhe bem meu filho. Você ainda vai viajar muito na sua vida, mas acredito que não irá conhecer cidade mais linda no mundo.

A minha intenção não era sugestioná-lo, queria apenas que ele registrasse na memória aquele momento, que fotografasse mentalmente para comparar com tudo que ele ainda vai ver, e então tirar suas próprias conclusões. No futuro veremos se funcionou. Talvez para ele seja cedo ainda para formar qualquer conceito, mas para mim não. Ainda quero ver muita coisa e conhecer muitos lugares mágicos, mas por enquanto posso dizer que voltei do Rio com a impressão que tinha antes bastante reforçada: que Cidade Ma-ra-vi-lho-sa.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Um filme de terror




Sabe aqueles eventos que os preparativos bagunçam toda a sua vida? Pois então, eu estava diante de um: o casamento da minha querida prima. Um casamento à noite por si só já tem sua pompa e circunstância, mas, se não bastasse, eu ainda era madrinha e as comemorações eram em outro Estado.

Além do planejamento da viagem, havia mais uma série de questões a serem cuidadosamente tratadas. Para começar, que roupa usar? É claro que eu não tinha nada no armário para isso. E o cabelo, o quê fazer? Domar os cachos ou adestrá-los, eis a questão. Saindo do capítulo "cabelos", vêm o capítulo "acessórios": bijus, bolsa, sapato. Acessórios na vida de uma mulher “é tudo” e haviam muitas considerações e simulações a serem feitas. Mas, de todos os itens a serem resolvidos, o que mais me preocupava era a famigerada maquiagem.

Do alto dos meus quarentinha confesso um pouco constrangida que muito pouco, ou quase nada sei sobre a arte de empastar o rosto com aqueles produtos “carésimos” cujas melhores marcas é necessário um biquinho para pronunciar o nome. As desculpas são variadas e quase todas bem esfarrapadas, mas a dura verdade é que eu não tenho a menor idéia do que fazer com aquele monte de pincéis e pozinhos coloridos. Muito bem assessorada por minhas amiguinhas encarei os fatos e fui à luta.

Depois de algumas pesquisas em sites especializados e um workshop organizado pelas companheiras, me lancei às compras, acompanhada das amigas Del e Jó. No shopping, entramos numa loja especializada com várias cadeiras e espelhos para maquiagem no local. A vendedora, muito pintada, falou dos produtos e, gentilmente, perguntou se eu não gostaria de experimentar, tipo assim: uma maquiagem sem compromisso. Era tudo o que eu queria, vinte minutos toda relaxada, enquanto alguém delicadamente passava algumas coisinhas no meu rosto para depois eu sair linda e com todos os trâmites da make-up dominados.

- Claro! Por que não? - Respondi.

Sentei e começou. Se você é como eu, aproveite a mamata e anote a seqüência dos passos. Primeiro: limpeza. Água e sabão nem pensar, é totalmente over. Use um produto específico que vai lhe custar algumas dezenas de reais. Segundo: tônico, para re-equilibrar o ph da sua pele. Nem parece eu falando. Terceiro: a preparação com corretivo, base e pó facial. Agora vamos parar com essa numeração que minha cabeça loura não consegue raciocinar num plano organizado. Até aí tudo estava indo muito bem. A moça exagerou um pouco em cada item, mas nada preocupante, ainda parecia equilibrada e eu ainda achava que ia ficar bonita. Então, começou o filme de terror.

Ela pegou uma brocha, parecida com aquelas de pintar muro, besuntou numa sombra dourada extravagante e passou na minha pálpebra sem dó nem piedade. A brocha não prima pela precisão, mas confere bastante agilidade. Com duas pinceladas meus olhos ficaram como duas pepitas de ouro. Del e Jó, que estavam até então boiando, acordaram assustadas e curiosas para saber onde ia dar aquilo.

- Bem, o evento é à noite, não é? – A louca enquanto me pintava ia conversando com ela mesma. – Então pode usar um tom mais escuro. O preto vai ficar ótimo!

Encharcou outra brocha na sombra preta e mandou ver em torno dos meus olhos, próximo aos cílios. Arrematou com delineador e rímel, e pediu que eu conferisse. Para as circunstâncias, um exame de corpo delito seria mais apropriado. Mas ela continuava empolgada.

- Está ficando ótimo! Hora do blush. O blush é muito importante, ele levanta a maquiagem e dá um ar saudável.

Neste caso levantava até defunto, porque ela pegou o rolo de pintar parede e passou do maxilar até as olheiras com a voracidade de um felino faminto. Na verdade, eu já estava com medo. Olhava para minhas amigas com os olhos compridos, suplicando ajuda, socorro, qualquer interferência sensata ou desesperada, que me tirasse das mãos daquela mulher perigosa. Mas nada, as duas moscas mortas continuavam impassíveis, com a boca aberta.

A artista, enquanto pintava, toda esbaforida com os movimentos e confusa com tantos pincéis e produtos, me falava como havia se destacado no curso de maquiagem que tinha feito. Acho que muito atarefada com a atividade, acabou esquecendo de mencionar que o curso foi por correspondência, em hebraico arcaico, sem fotos ou ilustrações.

- Agora o toque final: o iluminador!

Começaram, então, longos movimentos verticais, horizontais e diagonais, por todo o rosto, totalmente inspirados em Daniel Sam do memorável "Karatê Kid", na primeira versão, quando no seu processo de aprendizado dos mistérios das lutas marciais foi escravizado pelo Sr. Miyagi, lavando e pintando toda a área de seu deck com tais movimentos. Mas não, ela não se contentava em somente imitar um grande sucesso do cinema internacional, ela tinha que inventar, e introduziu também gigantescos movimentos circulares. Quando acabou, somente com a minha cara eu era capaz de iluminar uma cidade de vinte mil habitantes. No embalo, pegou um batom bem melequento, cortou um pedaço e colocou sobre os meus lábios, como uma fatia de goiabada sobre o queijo. Totalmente sem noção, largou a bomba:

- Pronto! E aí, gostou????

Na hora me pintou a dúvida: “me atraco com essa mulher, furo seus 'zóios' e quebro todos os dedos para nunca mais ela fazer uma sandice desta com mais ninguém, ou faço uma cara de deslumbrada dizendo que o local e hora não merecem tal obra prima, esfregando e lavando o rosto totalmente e imediatamente para não sobrar qualquer vestígio”. Como boa garota que sou, fiquei com a segunda opção, mas alguém precisa tomar uma providência sobre aquela moça.

Não preciso nem dizer que tive que suar muito ainda para equacionar o item "maquiagem" nos preparativos para o casório, bem como todos os demais itens para não fazer feio num dia tão especial para minha priminha. No final, deu tudo certo, mas o saldo não foi positivo. Desde então evito ir àquele shopping, ou quando é imprescindível, passo há léguas da bendita loja. Até hoje tenho pesadelos horríveis com aquela mulher, vestida numa camisa de força, usando uma focinheira, cheia de pincéis, correndo ensandecida atrás de mim pelos corredores do shopping.

quinta-feira, 25 de março de 2010

A pinça da ponta dourada

Vamos falar agora de uma coisa realmente importante: a pinça. Sim, a pinça de tirar pêlos, um a um. Precisei da minha, que já estava comigo há uns quinze anos, para cuidar de um ferimento na pata da minha cachorra. Aos que dirão "eeecaaa!!!", devo informar que adoro este ofício de veterinária de fim-de-semana. Mas, voltando ao nosso assunto, fiquei sem pinça. Resignada, saí o quanto antes para comprar uma.
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Cheguei à loja toda displicente e pedi uma pinça. A atendente parou, me filmou da cabeça aos pés e, olhando-me com firmeza no fundo dos olhos, perguntou com um tom sóbrio e revelador:
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- A senhora quer “a pinça da ponta dourada”?
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Não foi uma pergunta qualquer, todo o contexto foi rodeado por uma aura tão especial que nesta hora o céu se iluminou de dourado ao som de uma linda melodia celestial. O quê seria “a pinça da ponta dourada"? Ainda perplexa, fui me dirigindo lentamente ao local onde ficavam as demais pinças. Neste momento a moça disse que não adiantava, “a pinça da ponta dourada" não ficava junto com as outras. Que ótimo! Uma pinça que não se mistura com qualquer um. Então ela foi ao caixa, pegou uma chave especial e andou até um armário lacrado. Destrancou o armário, abriu uma gaveta e sacou de lá um instrumento delicado, alongado e com deslumbrantes pontas douradas reluzentes que ofuscaram meu olhar. Ela colocou a relíquia na mão e esticou o braço para que eu pudesse pegar.
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Lentamente toquei com as pontas dos dedos na jóia, primando por um cuidado que não me é peculiar, segurando-a em seguida. Oh meu Deus, o que teria de tão especial aquela pinça? E o pior, quanto custaria? Provavelmente não seria para o meu bolso. Cheia de coragem, perguntei:
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- Quanto é?



- Veja bem, é R$10,00, mas é para a vida toda.


Eu sabia, enquanto as demais pinças não ultrapassavam os R$2,00, a pinça da ponta dourada era R$10,00. Tive que rapidamente fazer algumas considerações. Além de umas continhas básicas, pensei: se eu novamente precisasse da pinça para cuidar da patinha da minha cachorra, não teria coragem de usar a de ponta dourada para auxiliar na assepsia das feridas abertas. A pinça valeria a vida de minha cachorra? Acho que sim. Decidida, falei:


- Eu quero a pinça. Você divide no cartão?
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Saí da loja segurando a bolsa como quem protege uma preciosidade e fui correndo para casa experimentar meu novo brinquedinho. Chegando lá me dirigi diretamente para o espelho para usar a sobrancelha como cobaia, e devo reconhecer, não é propaganda enganosa. A ponta dourada se encaixa com precisão cirúrgica na base, juntinho da raiz do pêlo, puxando o cabelo inteirinho. A raiz sai todinha e o percentual de pêlos quebrados cai a zero. Me empolguei e sai arrancando os cabelinhos enquanto no espelho revelava-se uma nova mulher.
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Amigas, acreditem, é um verdadeiro milagre. O alto investimento inicial é integralmente recompensado pela inestimável satisfação de olhar aquela pele lisinha e livre de fiapinhos indesejáveis ao redor de uma sobrancelha de contornos perfeitos. Sem falar de outras partes do corpo que podem adquirir também contornos perfeitos. Mas fiquem muito atentas para não levarem gato por lebre. A pinça da ponta dourada é uma pinça longa, de design limpo, toda prateada, somente com as pontas douradas e brilhantes, uma verdadeira obra de arte. Concluindo, valeu os R$10,00 parcelados e o risco de vida permanente ao qual condenei minha cachorra. E São Francisco de Assis que me perdoe.