segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Abismo de Lágrimas da Paixão - Capítulo 1 - A primeira novela Mexicana produzida na Bahia

Nota: todos os personagem e fatos desta novela são produtos de ficção e qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência.

Capítulo 1

Cena 1

Faziam uns 40 minutos que a menina andava pela mata sem se dar conta de sua localização. Perdida sim. Assustada nunca. A determinação era a mesma que a acompanhava em todas as suas ações. Mas, em La Província de Diepin dos Montes, um fim de mundo perdido ao norte do México, determinação e coragem não eram qualidades apreciadas em um ser humaninho do sexo feminino, mesmo sendo ela apenas uma pequena garotinha na graça de seus doze anos. Apesar da coragem para continuar, o sol começava a baixar e seus pensamentos lhe traíam conduzindo-a maliciosamente a fantasiosas imagens de SESABA.

SESABA era uma misteriosa entidade que assombrava Diepin dos Montes à gerações. Uma figura descrita das mais variadas formas, imprecisa, mas sempre impiedosa, a quem atribuíam várias mortes e sumiços não explicados de moradores da Província. Supostamente a entidade morava na Floresta Polititican, um bolsão de mata encravada no deserto árido do norte. A Floresta Polititican era conhecida por Floresta do Absurdo, pois impressionava pela imprevisibilidade e reviravoltas. Uma mata densa com árvores de médio e grande porte, características de vegetação tropical, que se misturava a cactos e vegetação arbustiva, típicas do clima seco e árido de La Província. A floresta tinha a propriedade de mudar completamente suas características, às vezes num ciclo inferior a dois anos. Era tão improvável que atraía pesquisadores de todo o mundo, bem como jornalistas, místicos e curandeiros.

Perambulando pela floresta, a pequena aos poucos percebeu que estava sendo seguida. Apressou o passo, começou a correr, mas o barulho parecia cada vez mais próximo, quando, do nada, vislumbrou uma gigantesca, feroz e assustadora Mucura. A Mucura arreganhou os seus dois únicos dentes de roedora descontrolada e levantou suas patas dianteiras alcançando quase 35 centímetros de altura, revelando também as garras afiadas. A pequena ofegante viu-se acuada, cercada de um lado por um nicho de densos arbustos e, do outro lado, por aquele animal insano, quando, quase que por encanto, entrou na sua frente, entre ela e a Mucura, aquela figura totalmente fora do contexto.

Era um menino franzino de aproximadamente treze anos, usando óculos e um traje bem almofadinha. Caminhava calmamente, munido de uma imensa lupa, absolutamente submerso na busca de sei lá o quê pelo chão da mata. Tão abstraído estava que não notou nem a menina, nem a Mucura, quando parou bem na frente da pequena.

Ele: - Oh! Perdón, não havia lhe visto. Buenas tardes señorita!
Ela: - Buenas tardes o cace...(Piiiiiiii), que espécie de maluco é você? Não vê que seremos atacados por aquele bicho?
Ele: - Qué pasa? De que bicho hablas?
Ela: - Daquele projeto de Demônio da Tasmânia. Tu, que és um chico, vas lá e acaba com o bicho de uma vez.

E a Mucura se aproximava ameaçadoramente.

Ele: Acabar com o bicho? No poderia jamais. Aquele animal é um inofensivo Gambá, popularmente chamado de Mucura. A mucura é um mamífero marsupial, assim como o canguru, pertencente à família Didelphidae,cujo nome científico é Didelphis sp. Habita as Américas desde o Canadá até o sul da Argentina. Sua presença na mata é fundamental para garantir...

Vapt!!! 

E a mucura voou caindo uns quatro metros distante, se levantou rapidinho e se picou no meio da mata. Enquanto o menino elucubrava sobre o fundamental papel da mucura na biodiversidade do bioma local, a menina achou um robusto galho caído no chão e mandou a ameaça para longe. Apesar de não aprovar a atitude dela, o menino encantou-se com a personalidade da pequena.

Quando voltou-se para ela novamente, seus olhos se cruzaram de forma curiosa e perturbadora. Foi como uma flecha quente e doce atravessando seus coraçõezinhos. Os dois se apaixonaram subitamente.

Ela: - Eu sou Marja. Marja Consuelo.
Ele: - Eu sou Felipe. Felipe Augusto. 

Cena 2

No retorno, Marja Consuelo logo que saiu da Floresta Polititican avistou na planície a fazenda de seu pai emoldurada pela luz do pôr do sol. A vista não era nenhuma novidade para ela, mas todas as vezes a paisagem lhe encantava. A Fazenda Directiva Harmoniosa era a mais bem sucedida propriedade rural da região. Um latifúndio cujos limites não podiam ser enquadrados pelos olhos. Grande produtora de gado, de bode e de avestruz. Seu pai, o Coronel Don José Anxieta Aguirré, era um eminente cidadão de La Província de Diepin dos Montes, que levava o comando da fazenda com rédeas curtas. Mas, diferente da maior parte dos fazendeiros da região, conseguia manter com seus empregados e colaboradores uma relação de respeito e harmonia.

A menina quando se aproximou, notou um movimento diferente na fazenda. Os cavalos estavam sendo atrelados à diligência para sair, e todos os empregados que passavam por ela baixavam o olhar demonstrando uma certa tristeza. Quando entrou na Casa Grande encontrou com sua prima Erla Joseane.  

Erla Joseane era filha de Dona Fátima Dolores Aguirré Munhoz, irmã de Don José Anxieta Aguirré. Fátima Dolores ficou viúva com a filha bebê, tendo logo se mudado para a fazenda para viver aos cuidados de seu irmão. Mesmo com os anos passados, ainda mantinha nos olhos o viço da juventude que abdicou para cuidar da filha, da sobrinha, do irmão e da casa na fazenda. As primas Erla Joseane e Marja Consuelo cresceram juntas, apesar da pouca afinidade.

Erla Joseane: - Marja Consuelo, su padre deseja hablar contigo.
Marja Consuelo: - Qué pasa prima? Donde vai a diligência?
Erla Joseane: - Melhor hablar con titio antes, no quiero estragar la gran surpresa. 

Cena 3

Toque, toque, toque. E Marja Consuelo abriu a porta do gabinete de seu pai.

Marja Consuelo: - Papa, posso entrar?
José Anxieta: - Si mi hija, por favor entre!
Marja Consuelo: - Quieres hablar comigo papa?
José Anxieta: - Si! Quiero que arrumes su mala ahora, vas viajar hoje para estudar no tradicional Colégio das Freiras dos Trabalhadores.
Marja Consuelo: - Mas como papa? Este colégio es na capital, tan lejos daqui. No posso ficar longe da fazenda.
José Anxieta: - Besteira! A fazenda vai seguir sem problemas, e usted, quando retornar, estará mais preparada para assumir o que é seu.
Marja Consuelo: - No papa, por favor. Posso estudiar aqui, sabes que me dedico. Encontraremos um tutor em La Província para que venha periodicamente me dar aulas.
José Anxieta: - Hija, deixe de tolices. O Colégio lhe preparará de uma forma que nenhum tutor na região poderia fazer.  Es fuerte, este tempo longe lhe fará bem. Ademais, sempre será minha hija preciosa. E eu já decidi. Partirá na diligência em quinze minutos. O trem para a capital não espera.
Marja Consuelo: - Quinze minutos? Este prazo es impossível. Por que não me avisou antes? Não tenho como planejar e preparar tudo neste prazo. A mala resultará um desastre. Por que és sempre assim?
José Anxieta: - No sei. Só sei que foi assim.

Cena 4

Marja Consuelo saiu descontrolada pela Casa Grande até o átrio. Sentou-se à beira da fonte luminosa e desatou a chorar. Nesta hora se aproximou Ivana Guadalupe.

Ivana Guadalupe Cervantes era cria da casa. Foi adotada por Don José Anxieta e sua falecida esposa quando tinha apenas cinco anos, e sempre foi um nó cego. Seus pais formavam um casal de famosos caçadores, conhecidos como "los Cervantes", os mais habilidosos e renomados caçadores do México, que foram atraídos para La Província de Diepin dos Montes pela fama de SESABA. Contudo, em Diepin dos Montes não tiveram tanta sorte. Entraram na Floresta Polititican munidos de armas, coragem e todas as preces empenhadas pelos moradores de La Província, que sofriam há anos com os ataques da entidade, mas não retornaram da mata. Seus corpos nunca foram achados. Ivana Guadalupe se lembrava de todo o acontecido e nutria em si um desejo seguro de tirar a limpo aquela história. Cresceu na Casa Grande entre a cozinha e a pouca atenção que recebia dos senhores, até que nasceu Marja Consuelo. Apesar da grande diferença de idade, as duas sempre foram amigas muito próximas.

Ivana Guadalupe: - Pepa - como Marja Consuelo era carinhosamente chamada na fazenda -, já sei que partes hoje para a Capital. Pero, no chores amiga! Passará rápido. Logo estarás de volta à fazenda.
Marja Consuelo: - No quero ir. Conheci hoje, na Floresta, um chico que capturou meu corazón. Logo ahora papa inventa isso. 
Ivana Guadalupe: - Um chico? Quien es?
Marja Consuelo: - Augusto. Felipe Augusto. Belo, forte, corajoso. Me salvou de um animal feroz na mata.
Ivana Guadalupe: - Que guapo! Es de alguma fazenda vizinha?
Marja Consuelo: - No sei dizer. Oh mi amiga, nunca mais voltarei a vê-lo. Sou tão infeliz.
Ivana Guadalupe: - Probezita!

Nessa hora Don José Anxieta apareceu na varanda do átrio e perguntou:

- E aí, já terminou a mala?

Ivana Guadalupe depois de consolar Marja Consuelo saiu para ver seus afazeres na cozinha. No caminho encontrou Erla Joseane.

Erla Joseane: - Ivana Guadalupe, - e jogou os cabelos para o lado - logo que Marja Consuelo por o pé fora da fazenda, quero que tires todas as suas tralhas de seu quarto e faça a mudança das minhas coisas para o quarto dela. Pegue tudo que for meu para arrumar no quarto de Marja Consuelo. As roupas, sapatos, chapéus, bolsas, joias, tudo enfim. Amanhã já quero amanhecer o dia no quarto novo. 
Ivana Guadalupe: - E por que eu faria isso? Você tem seu quarto, um quarto bom, na ala dos senhores.
Erla Joseane: - Mas usted es mesmo uma empregadinha jeca. O quarto de Marja Consuelo é bem maior e tem a melhor vista da Casa Grande. E sabe o que mais, o por quê não te interessa. Faça o que lhe mandei e acabou.
Ivana Guadalupe: - Sendo assim, faz você mesmo!

Ivana Guadalupe virou as costas e saiu. Erla Joseane ficou bufando de raiva e praguejando:

- Essa empregadinha só faz o que ela quer. Mas ela ainda vai se ver comigo. - e jogou os cabelos para o lado. 

Cena 5

Erla Joseane, ardilosa, foi ter com sua mãe. Encontrou Dona Fátima Dolores no salão de festas experimentando cortinas nas janelas. Dona Fátima Dolores era muito caprichosa com a decoração da fazenda. De três em três meses trocava as cortinas, as capas das almofadas, os tapetes e os arranjos das principais mesas e aparadores. A Fazenda Directiva Harmoniosa era conhecida na região por estampar sempre a mais nova tendência do Design Rural Mexicano.

Erla Joseane: - Madrezita, que cores lindas. A senhora sempre acerta nas combinações.
Fátima Dolores: - Hija querida, me ajudes. Qual preferes? A Marsala, a Orange new Black ou o Rosa Seco. Estoy torturada pela dúvida.
Erla Joseane: - No sei mama! A Orange new Black es alegre como tu sorriso e o Rosa Seco tem o tom de tuas faces. Contudo, acho que gosto mais da Marsala, porque é mais imponente.
Fátima Dolores: - É, você tem razão. A orange new black é a grande novidade da Tabela Pantone.
Erla Joseane: - Mama, usted sabe, Marja Consuelo partirá da fazenda sem data para voltar.
Fátima Dolores: - Si, sei! Coitadinha. Una chica tão delicada e tão longe dos cuidados da família. Me preocupo com ela. No faria isso com usted jamais.
Erla Joseane: - Si madre, também estou muy preocupada com ela e com su quarto.
Fátima Dolores: - Su quarto? Por que hija? 
Erla Joseane: - Veja bem mama,- jogando os cabelos para o lado - um quarto fechado por anos, sem ninguém usar, junta poeira, mofo, traças. Pode até criar ninhos de baratas e roedores. Estoy muy preocupada.
Fátima Dolores: - Si, minha bela, que problema monstro. O que podemos fazer sobre isso?
Erla Joseane: - Madre, pensei em me acomodar no quarto de Marja Consuelo enquanto ela estiver fora. Assim, posso cuidar de tudo para quando ela voltar encontrar seu quarto limpo e cheiroso. Para mi será terrível abandonar meus aposentos a ameaças de baratas e roedores, mas por mi prima faço qualquer sacrifício.
Fátima Dolores: - Serias capaz de fazer isso por su prima?
Erla Joseane: - Si madre! Acho que suportarei este fardo.
Fátima Dolores: - Hija amada, a nobreza de seu espírito me comove.

Erla Joseane saiu com o riso de canto de boca. Fátima Dolores ficou suspirando feliz e murmurando consigo.

- Como es boa essa chica. 
                                  
Cena 6

Ivana Guadalupe estava na cozinha lavando a louça do jantar quando ouviu distante o relinchar dos cavalos. Correu em disparada para a frente da fazenda. Ao chegar, a diligência já havia partido e ela só pode acenar de longe para Marja Consuelo.


- Vai em paz Pepa e não demores.