Todo mundo passa por aqueles dias que é melhor não abrir a boca. Com a maior parte das pessoas isso acontece um dia ou outro. Comigo é mais freqüente. O problema maior é que a gente nunca sabe quando acordou com esta pré-disposição. Tanta tecnologia disponível e ninguém se tocou de bolar um alarme no celular para nos prevenir nesses dias sombrios. Ou talvez "os céus" pudessem nos proteger das derrapadas com inspirados presságios. Seja como for, alguém precisa tomar uma providência.
Como não me dou muito bem com os celulares e não costumo ser abençoada com tais revelações divinas, lá vou eu toda serelepe e desavisada para mais um dia de trabalho. Passei o dia até bem e parecia que ia voltar para casa sem nenhuma seqüela. Era o quê parecia. Lá pelo final da tarde, conversava com minha chefona, que é mais ou menos um feitor dos tempos modernos. Quando trocávamos algumas figurinhas chegou Aragon, nosso colega de trabalho. Só para ilustrar o tamanho da trapalhada que vem pela frente, vou descrever nosso personagem. Aragon é um engenheiro de segurança de cinqüenta e poucos anos, sério e muito tímido. Para termos uma idéia, ele fala de boca fechada. Quando está muito nervoso e alterado chega a abrir a boca cinco milímetros e meio e, se chegarmos a dez centímetros da fonte emissora do som, é até capaz que a gente consiga ouvir 70% do que ele fala. É um bom profissional, mas bem mais eloqüente na escrita. A “chefa” tinha alguns assuntos pendentes com ele e na mesma hora tirou o chicote do cinto e começou a cobrar os desdobramentos dos serviços.
Os dois seguiram debatendo os assuntos de trabalho. Na argumentação, Aragon, que normalmente é muito contido, gesticulava com as mãos na altura do baixo abdômen e região pubiana, com movimentos curtos e lentos. Como a conversa não era mesmo comigo, me permiti abstrair perdida nos meus pensamentos. Isso, para uma mente intelectual, significa absorver-se entre assuntos relevantes para a humanidade. Para uma cabeça loura, como é o meu caso, significa "só pensar besteira". Então, comecei a viajar nas mãos de Aragon, observando que seus dedos eram bem cabeludos, o que me lembrou um lobisomem ou, talvez, Tony Ramos, que é mais ou menos a mesma coisa. Era meramente uma observação, que faço questão de registrar que não me remeteu a nenhuma fantasia. Aprofundando-me mais na questão de alta complexidade, notei que, em uma das mãos, os dedos indicador e médio tinham os cabelos menores, como se tivessem sidos aparados. Totalmente alheia ao ambiente e às circunstâncias e, pior, no auge do meu surto delirante, usando um papel tipo ofício que tinha na mão, apontei para as mãos de Aragon, que nesta hora estavam na altura da região pubiana, e perguntei:
- Você corta o cabelo daí?????
Agora você, caro leitor, com todo o seu poder de imaginação, realize a cena. Imediatamente percebi o fora que tinha dado, mas a besteira já estava feita. Minha chefe, que estava de lado, como se estivesse em um filme em câmera lenta, virou a cabeça na minha direção e levantou o mais alto que pôde a sobrancelha de apenas um dos olhos. Sobre sua cabeça surgiu instantaneamente um balão com uma enorme interrogação mãe, rodeadas por inúmeras "interrogaçõeszinhas" filhas, brincando de roda em volta da genitora. Aragon, coitado, um pouco tonto ainda, lentamente baixou a cabeça e levantou a camisa, dando uma averiguada em sua calça. Sou capaz de apostar que ele pensou que estava com o zíper aberto. Quanto a mim, não me contive, desabei numa crise de riso, sem conseguir pronunciar uma palavra que pudesse explicar o ocorrido. Cinicamente, a chefona ainda teve o desplante de perguntar:
- Vocês querem que eu saia?
Com uma amiga dessas, quem precisa de inimigos? Continuei tentando pronunciar alguma coisa que pudesse ser entendida, mas os risos não deixavam, saindo apenas palavras cortadas.
- Nã-nã-não! - Dizia eu enquanto apontava as mãos dele, mas acho que isso só fazia piorar tudo. Meu colega, sem entender nada e expressando um certo medo de mim, já dava alguns pequenos passos para trás. Por fim, ainda sem parar de rir, consegui falar:
- Eu estou falando dos dedos!
A chefinha saiu rindo e Aragon, assombrado pelo terror de ficar sozinho comigo, bateu em retirada com passos largos e apressados. Fiquei enxugando as lágrimas da crise de riso, mas ainda sem conseguir parar de rir. No carro, voltando para casa, ia pensando uma maneira de esclarecer o mal-entendido, antes que os demais técnicos do órgão, avisados sobre minha excêntrica curiosidade, viessem todos me falar sobre seus hábitos higiênicos e seus cortes de preferência.
Como não me dou muito bem com os celulares e não costumo ser abençoada com tais revelações divinas, lá vou eu toda serelepe e desavisada para mais um dia de trabalho. Passei o dia até bem e parecia que ia voltar para casa sem nenhuma seqüela. Era o quê parecia. Lá pelo final da tarde, conversava com minha chefona, que é mais ou menos um feitor dos tempos modernos. Quando trocávamos algumas figurinhas chegou Aragon, nosso colega de trabalho. Só para ilustrar o tamanho da trapalhada que vem pela frente, vou descrever nosso personagem. Aragon é um engenheiro de segurança de cinqüenta e poucos anos, sério e muito tímido. Para termos uma idéia, ele fala de boca fechada. Quando está muito nervoso e alterado chega a abrir a boca cinco milímetros e meio e, se chegarmos a dez centímetros da fonte emissora do som, é até capaz que a gente consiga ouvir 70% do que ele fala. É um bom profissional, mas bem mais eloqüente na escrita. A “chefa” tinha alguns assuntos pendentes com ele e na mesma hora tirou o chicote do cinto e começou a cobrar os desdobramentos dos serviços.
Os dois seguiram debatendo os assuntos de trabalho. Na argumentação, Aragon, que normalmente é muito contido, gesticulava com as mãos na altura do baixo abdômen e região pubiana, com movimentos curtos e lentos. Como a conversa não era mesmo comigo, me permiti abstrair perdida nos meus pensamentos. Isso, para uma mente intelectual, significa absorver-se entre assuntos relevantes para a humanidade. Para uma cabeça loura, como é o meu caso, significa "só pensar besteira". Então, comecei a viajar nas mãos de Aragon, observando que seus dedos eram bem cabeludos, o que me lembrou um lobisomem ou, talvez, Tony Ramos, que é mais ou menos a mesma coisa. Era meramente uma observação, que faço questão de registrar que não me remeteu a nenhuma fantasia. Aprofundando-me mais na questão de alta complexidade, notei que, em uma das mãos, os dedos indicador e médio tinham os cabelos menores, como se tivessem sidos aparados. Totalmente alheia ao ambiente e às circunstâncias e, pior, no auge do meu surto delirante, usando um papel tipo ofício que tinha na mão, apontei para as mãos de Aragon, que nesta hora estavam na altura da região pubiana, e perguntei:
- Você corta o cabelo daí?????
Agora você, caro leitor, com todo o seu poder de imaginação, realize a cena. Imediatamente percebi o fora que tinha dado, mas a besteira já estava feita. Minha chefe, que estava de lado, como se estivesse em um filme em câmera lenta, virou a cabeça na minha direção e levantou o mais alto que pôde a sobrancelha de apenas um dos olhos. Sobre sua cabeça surgiu instantaneamente um balão com uma enorme interrogação mãe, rodeadas por inúmeras "interrogaçõeszinhas" filhas, brincando de roda em volta da genitora. Aragon, coitado, um pouco tonto ainda, lentamente baixou a cabeça e levantou a camisa, dando uma averiguada em sua calça. Sou capaz de apostar que ele pensou que estava com o zíper aberto. Quanto a mim, não me contive, desabei numa crise de riso, sem conseguir pronunciar uma palavra que pudesse explicar o ocorrido. Cinicamente, a chefona ainda teve o desplante de perguntar:
- Vocês querem que eu saia?
Com uma amiga dessas, quem precisa de inimigos? Continuei tentando pronunciar alguma coisa que pudesse ser entendida, mas os risos não deixavam, saindo apenas palavras cortadas.
- Nã-nã-não! - Dizia eu enquanto apontava as mãos dele, mas acho que isso só fazia piorar tudo. Meu colega, sem entender nada e expressando um certo medo de mim, já dava alguns pequenos passos para trás. Por fim, ainda sem parar de rir, consegui falar:
- Eu estou falando dos dedos!
A chefinha saiu rindo e Aragon, assombrado pelo terror de ficar sozinho comigo, bateu em retirada com passos largos e apressados. Fiquei enxugando as lágrimas da crise de riso, mas ainda sem conseguir parar de rir. No carro, voltando para casa, ia pensando uma maneira de esclarecer o mal-entendido, antes que os demais técnicos do órgão, avisados sobre minha excêntrica curiosidade, viessem todos me falar sobre seus hábitos higiênicos e seus cortes de preferência.