domingo, 5 de julho de 2009

Memórias de viagens III: em trupe para Gramado

Se o casal de paraíbas viajando sozinhos protagonizam uma lista razoável de mancadas, imagina quando decidem sair em família. Foi o que aconteceu no último feriado de São João.



A turma, bastante eclética, tinha um grupo de crianças com três meninas, Gabi (8 anos), Cacá (6) e Lulu (6); os adolescentes e jovens adultos, com Nathália (14), Bruno (16), Paulinha (20) e Nanda (22); e os adultos, que acho desnecessário identificar as idades, com o casal Lula e Wilma, Luíza, a matriarca do grupo, e o casal de paraíbas. Ele, o paraíba, como sempre, elegeu-se o chefe da excursão, através de processos não muito legítimos. Ela, a paraíba, foi de curtição. O destino: uma semana em Gramado-RS. Mas essa aventura tem muitos capítulos, e para facilitar, vamos fatiá-la.




Capítulo I: Chegando Lá. Opção: "com emoção"



O grupo viajou dividido em dois. Passada a rotineira agonia do embarque, com os atrasos costumeiros e um congestionamento de gente no aeroporto de Salvador como eu nunca tinha visto antes, nos acomodamos no avião, ocupando nossos lugares marcados, a exceção de Paulinha, que conseguiu uma permuta com outro passageiro para ficar junto com Nathália e Bruno.



No vôo, com destino Porto Alegre, era programada uma escala em Sampa. Quando a aeronave pousou, o paraíba logo levantou-se e foi dar umas voltas para esticar o esqueleto. Neste meio tempo, três rapazes, jovens e muito educados, chegaram junto do trio Bruno, Nathália e Pulinha, e disseram, tranqüilamente, que aqueles assentos eram deles. Nossa ala jovem, completamente avoada, não se deu o trabalho sequer de verificar as passagens. Levantaram-se imediatamente e amontoaram-se no corredor, com umas carinhas de "o quê eu faço agora?"A paraíba, com uma calma que não lhe é peculiar, desconfiou do equívoco e foi checar os bilhetes de embarque. Na verdade, as poltronas dos rapazes realmente eram naquela fileira, mas do outro lado do corredor. Apenas um, o que sentou no lugar de Paula, estava totalmente certo. A paraíba explicou para eles a confusão e os dois, sem qualquer objeção, levantaram-se, permanecendo no lugar apenas o que estava correto.



Tudo tinha sido resolvido na mais completa ordem até que o paraíba, vendo tudo de muito longe e sem entender absolutamente nada, chegou intimando os rapazes, inclusive o pobre coitado que permanecia sentado no assento que era seu por direito. Nathália, totalmente sem graça, disse: "mas pai, esse lugar é dele!" A situação já estava um tanto constrangedora quando o garoto que era alvo da fúria do paraíba, mesmo estando todo certo e com uma gentileza incomum largou o golpe fatal, dizendo ao paraíba: "vocês querem ficar com esse lugar?" O paraíba, com um sorriso mais amarelo que suco de cajá, respondeu: "você faria isso?"



Novamente, todos acomodaram-se nos mesmos lugares do início da viagem, mas, provavelmente, aquele "tapa com luva de pelica" ficou latejando silenciosamente no rosto do paraíba pelo resto do trajeto. Quando chegamos em Porto Alegre, o tal rapaz, todo sorridente, com uma atenção no mínimo suspeita, se deu o trabalho de ir até Paulinha, que também o recebeu com um sorriso de orelha a orelha, para perguntar se a viagem tinha sido boa. Tanta gentileza estava, enfim, explicada.



Apesar de doido, o paraíba tem lá suas qualidades e, cheio de providência, tinha reservado o hotel e perdido algumas noites estudando o percurso no interativo "google earth". No aeroporto, ainda se achando o dono da excursão, tratou de pesquisar o táxi e acertar tudo, e, vamos combinar, considerando que seus serviços saem por custo zero, os mesmos são até satisfatórios.



Antes de sairmos em dois carros, os motoristas conversaram algo só entre eles. Quando os táxis pararam em frente ao hotel, o paraíba perguntou quanto era a corrida e começou a travar com o motora uma pequena discussão sobre o valor. Enquanto o embate inflamava-se, Wilma sentou na porta do hotel com uma fisionomia desolada e quase era possível ler num balãozinho sobre sua cabeça: "de novo não...". Lula assistia a tudo achando um pouco exagerado e Paulinha dizia: "ai meu tio".



De modo geral, ninguém estava entendendo muito a questão. A paraíba perguntou discretamente a Lula quanto tinha sido a corrida no carro deles e, para sua surpresa, Lula respondeu: "o taxista não disse o valor, falou apenas que era o mesmo de vocês". Então, caiu a ficha: o paraíba tinha toda a razão. Os dois motoristas combinaram para arbitrar um valor conforme o nível estimado de patetice dos turistas e, pelo jeito, fomos considerados de alto nível.



Antes de entrarmos no carro, o motorista havia informado que o valor não passaria de "x".Quando chegamos no hotel, o taxímetro informava um valor 25% menor que "x", e o motora teve a cara de pau de cobrar 30% a mais que "x", ou seja, quase o dobro do registrado pelo taxímetro. Deixando os tais "xis" para lá, em português claro, estávamos sendo roubados. Assim, a paraíba e Lula também entraram na discussão em incondicional apoio ao paraíba. Aos poucos, os gaúchos perceberam que não seria tão fácil e recuaram, cobrando o valor correto.



Ficamos nos instalando no hotel enquanto, em Salvador, o restante da turma embarcava rumo a Porto Alegre, com Luíza, Nanda, Lulu e Cacá. Para as pequenas, o avião era uma grande novidade. Logo que a aeronave decolou, Cacá informou que precisava urinar e Lulu apressou-se em anunciar: "ih, o motorista vai ter que parar o avião para Cacá fazer xixi."



No desembarque, longe de casa mais de 3.000km, um rosto familiar era como um oásis, e Luíza logo acenou de longe, quando veio a pergunta:
_Vó, para quem a Sra. está dando tchau? - perguntou Nanda.
_ Não é o seu pai ali? - respondeu Luíza.



Não era, mas deixa para lá.




Capítulo II: Turismo em Porto Alegre



É claro que os paraíbas ainda não tinham reservado, alugado ou programado nada em relação a carro ou qualquer outro transporte para o deslocamento de Porto Alegre para Gramado, e, diante da dificuldade em conseguir qualquer coisa no domingo, a subida para a serra teve que ser adiada para o dia seguinte. Tudo bem, vamos explorar a capital gaúcha.



Saíram todos muito arrumados, entre lã, couro e materiais com efeito térmico, com pelo menos quatro camadas de roupa, cada um, prevendo uma nevasca de surpreender o Alaska. Lula, um incansável atleta de maratonas, lamentou ter que ficar de pernas para cima no hotel o dia todo, mas submeteu-se a tal sacrifício para acompanhar Nanda, sua filha, que não se sentia muito bem.



Mapa na mão, lá se foi o restante do grupo em direção ao centro da cidade. Na caminhada até o metrô, o paraíba, com um senso de direção apurado e uma rara habilidade em leitura de mapas, tomou a frente e, mesmo sob o protesto da paraíba, elegeu o caminho. Não demorou para perceberem a furada que haviam entrado. O passeio para pedestres logo acabou. Dividindo a rua com os carros, atravessaram túnel e entraram numa via expressa. Diante do perigo da empreitada, resolveram enfrentar o matagal, resquício da Mata Atlântica, que margeava a pista. Mas o que era uma mata selvagem, a lama nos sapatos e alguns carrapichos na roupa diante da vontade louca de curtir o passeio. Vendo tanta animação, o sol não quis ficar de fora, e nos presenteou com um calor inesperado. Com o suor escorrendo, aos poucos, como cebolas perdendo as camadas, fomos arrancando as roupas. Andamos, andamos, e nada. Não avistávamos qualquer sinal de estação de metrô, de passeio para pedestre ou mesmo de gente, a não ser as que passavam por nós a oitenta quilômetros por hora, dentro dos carros. Por mais estranho que possa parecer a cena, aquilo estava hilário, e continuamos até que Luíza, tomando a frente, declarou: "eu vou voltar!" Na mesma hora, todos a seguiram, mesmo sob o protesto do paraíba, que insistia em dizer que a estação estava logo ali na frente.


Enfim na estação, chegou o metrô que nos levaria até a parada do Mercado. No rítmo baiano, começamos a ingressar no vagão um a um, até que a porta se fechou, para nossa surpresa, deixando Nathália de fora. O paraíba não contou conversa, desceu na estação seguinte para ir resgatar a filha, enquanto a outra filha, Gabi, em prantos, chamava pela irmã, achando que nunca mais a encontraríamos. O restante seguiu até a estação do mercado, para aguardar lá. Se não fosse pela preocupação e tristeza de Gabi, a situação inusitada, novamente, inspirava o riso. Apesar de tudo, como bons brasileiros, tínhamos esperança de conseguirmos passear na cidade ainda naquele dia.



Reunidos novamente, andamos pelo centro, fomos à Praça da Alfândega, onde entramos no Museu de Artes do Rio Grande do Sul; visitamos a praça da Matriz, passamos pelo Theatro São Pedro, o Palácio Piratini, sede do Governo, a Assembléia Legislativa, e conhecemos a Catedral Metropolitana, com uma enorme cúpula; depois, almoçamos no Galpão Crioulo. Uma parte do grupo debandou e foi conhecer também o Estádio Beira Rio e o mirante da TV. Por fim, depois de muito andar e de 327 registros fotográficos de Bruno e suas performances, terminamos o dia na Usina Gasômetro, antiga termoelétrica da cidade, à beira do rio Guaíba.



Por hora, já estava de bom tamanho.






Capítulo III: A Odisséia de Subir a Serra




A segunda-feira prometia ser gloriosa. Acordamos empenhados em alugar os carros, arrumar tudo e se mandar. Luíza, cheia de aitude, não esperou ninguém. Ligou para algumas empresas, escolheu a sua e alugou um Palio preto, que rapidamente foi levado até o hotel. Lula e o paraíba decidiram-se por outra locadora e tiveram que atravessar a cidade de ônibus para ir buscar o carro. Enquanto isso, ficamos todos os demais aguardando no hotel.





Considerando o horário limite para o check-out, fechamos a conta e ficamos com a bagagem aguardando em um pequeno estar ao lado do hall do hotel. Gabi, Cacá e Lulu, que de santas não tem nada, estavam soltas, dando nó em pingo de éter. As três mexeram no computador destinado a utilização dos hóspedes e conseguiram desconfigurar absolutamente tudo. Como se não bastasse, Gabi achou no banheiro um frasco de lavanda com burrifador, para ser utilizado moderadamente dentro do próprio banheiro. Ela se encantou com o brinquedinho e borrifou lavanda em todo o hotel. Devo adimitir que ficou tudo muito cheiroso, mas a dona do hotel, que circulava por lá, pirou e saiu despejando desaforo em todos que estavam por perto. Pronto, nosso filme já estava queimado naquele hotel.


TEXTO EM ELABORAÇÃO


Depois de mais de três horas de espera, chegaram os dois. Lula com um Fiat Uno vermelho, e o paraíba com um branco. O grupo se dividiu em três carros. A turma jovem não abriu mão de ir com Luíza. As pequenas foram com Lula e os paraíbas saíram sós. Tudo arrumado, fomos em direção a Gramado. No caminho, os paraíbas na dúvida entre qual rumo seguir, estacionaram o carro atrás de uma viatura de polícia em Novo Hamburgo e desceram para perguntar. A recepção foi ótima e a conversa começou a ficar animada, com gesticulações exageradas e tal. Os outros dois carros só se aproximaram depois
Bateu o carro


Quando chegaram à Gramado, todos os contra-tempos foram compensados. A cidade é linda, realmente mais do que o esperado. Os três carros em comboio percorreram a cidade apreciando o estilo das edificações, a harmonia do urbanismo, a iluminação. Luiza, no carro com o grupo jovem, se encantava com todos os detalhes:


- Olha, que linda aquela casa! Oh, que graça aquele restaurante. Gente, que beleza é o paisagismo. Vejam as ruas, tudo tão limpo, iluminado.


Enquanto observava tudo, se afastava do centro seguindo o carro do Paraiba. Este, por sua vez, foi preciso. Com o google earth decorado, deu uma volta de apresentação na cidade e seguiu para o endereço da pousada.

Aguarde o restante do capítulo ...



2 comentários:

Alice Teixeira disse...

Não podia esperar um relato melhor de uma viagem! Quase me senti parte do grupo, apenas de ler... Muito bom e divertido!

Beijos

panndora disse...

Que negócio é esse de "Liu"? Que "Liu" é essa? É Ecológica e não se discute mais isso.
Bj.