quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O perigo mora ao lado

Ai “Jisus”! Não quero fazer alarde, nem muito menos bancar o “cavaleiro do Apocalipse”, mais me sinto impelida por minha responsabilidade social a dividir com o maior número de pessoas possível as informações que recentemente entraram em minha vida como uma avalanche.




Atualmente estou lendo, interessadíssima, uma publicação sobre os "sociopatas", ou podemos chamar também de "personalidades anti-sociais", ou "personalidades psicopáticas", ou outras tantas identificações, mas que referem-se à mesma coisa: os terríveis, assustadores e enigmáticos "Psicopatas". O livro é uma publicação séria, talvez um pouco sensacionalista e repetitiva, de uma psiquiatra que nos últimos tempos caiu nas graças da mídia. Em seu trabalho ela aborda os traços mais característicos da personalidade destes seres, a forma como costumam agir e o elevado potencial destrutivo inerente à sua natureza.

Segundo a autora, os psicopatas são indivíduos que têm suas funções cognitivas em perfeito estado, mas são desprovidos da capacidade de sentir afeto genuíno, ou, como ela mesma afirma, incapacitados de amar. Conseqüentemente, lhes faltam ética, moral, solidariedade, compaixão e por aí vai. Em geral são pessoas inteligentes, articuladas, sedutoras e agradáveis, mas não se iludam, para atender às suas ambições mais fúteis são dissimuladas e capazes de atos sórdidos, insensíveis e cruéis, planejados em detalhes e executados com precisão. Em geral, temos a tendência de associar a palavra psicopata àqueles “miseravões”, matadores sanguinários, tipo serial killer, mas a maldade pode ser bem mais sutil.



Até aí, tudo ótimo, afinal, informação nunca é demais. O problema é que, involuntariamente, alheia ao prudente distanciamento crítico, às vezes as informações começam a associarem-se a fatos da vida real, de nosso cotidiano, correndo o risco de extrapolar o limite da razoabilidade e criar um universo paralelo onde tudo e todos atingem facilmente a categoria de suspeitos, com sérios sintomas de psicopatia. Desde que iniciei a leitura, transformei meus ambientes de convívio em laboratórios e meus amigos, colegas e conhecidos em estudo de caso. Contrariando os que dirão que como psiquiatra sou uma excelente arquiteta, nas próximas linhas não vou me ater apenas a relatar fatos verídicos, e preocupantes, de pessoas que fazem parte do meu convívio. Instrumentalizada com os fundamentos recém adquiridos, vou me aventurar por terrenos movediços para uma leiga, analisando os desvios de caráter dos envolvidos.



Para começar, para qualquer pessoa com o mínimo de clareza e de bom senso, qual é o candidato número um a psicopata frio e calculista? O chefe, sempre, é claro! E quanto mais imediata for a chefia, mais elevado tende a ser o grau de psicopatia. A minha chefinha é um caso clássico. Ela é bonita, muito articulada e bem relacionada. Sorrindo, submete com requintes de crueldade seus subordinados às tarefas técnicas mais estapafurdias. As jornadas de trabalho propostas são absolutamente insanas, chegando a mais de trinta horas semanais, vampirizando todos até a última gota de sangue. Em geral, consegue manter a fachada de profissional equilibrada, mas quando a máscara cai, aos berros revela sua verdadeira face: ciumenta, possessiva e controladora. Em seu ambiente de trabalho é inadmissível reunir mais de duas pessoas sem sua presença, ou a confraternização é caracterizada como motim de cunho altamente subversivo, com sanções severas. Desconfio de suas ambições, mas pela frente ela vai se deparar com outro chefe, igualmente suspeito: o diretor do departamento. Alicerçado na inteligência privilegiada, na leitura dinâmica e no raciocínio extremamente célere, congrega rapidamente as informações manipulando-as conforme suas conveniências. Letrado em direito e na área um, usa sua habilidade com as palavras para justificar suas alterações comportamentais que culminam em rompantes de fúria, quando suas orientações expressas são sumariamente ignoradas. Se um sozinho é uma grave ameaça, os dois juntos constituem o prenúncio de problemas de dolorosas implicações.

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Uma característica constante nos elementos com esse distúrbio psíquico é buscar ocupar posições estratégicas para suas pretensões. Nesta linha de pensamento, uma função bastante almejada é a de secretária, que tudo ouve e tudo sabe. Na empresa que trabalho temos um exemplo. Ela secretaria os assessores da diretoria do departamento e, vamos considerar, “ô baixinha sangue ruim”. Essa pessoa não pode ser considerada exatamente uma psicopata. Pela estatura, ela poderia ser enquadrada, no máximo, como uma psico”patinha”. Para um olhar desavisado pode passar por uma mulher sã, desembaraçada e simpática, apesar de temperamental. Mas, determinadas atitudes denunciam sua perversidade sórdida. Por exemplo, sua recusa doentia em assinar por mim meu ponto de freqüência quando me atraso, negando o favor com absoluta frieza e insensibilidade. Isso não pode ser um comportamento normal de uma criatura que tem a capacidade de nutrir afeição, ainda mais porque o favor é suplicado com tanto carinho e emoção. Considero ela um perigo iminente para o grupo.



O quê dizer, então, de meu namorado? Por algum tempo aquela conversa mole me envolveu de uma maneira que impediu a compreensão racional dos fatos. Agora, começo a ter um entendimento melhor. Ele é capaz de atingir o êxtase em caloradas discussões travadas com call centers dos mais diversos produtos e serviços, em embates diários que chegam a durar horas, preterindo, inclusive, uma deliciosa companhia feminina. Além disso, um companheiro que não aparece com mimos surpresa em datas improváveis e que não leva café da manhã na cama para a sua amada, não pode ser boa coisa. Tecnicamente, poderia ser considerado como um psicopata de grau elevado, pelas conseqüências nefastas de suas ações, ou falta delas, num coração sensível. Mas vou enquadrá-lo inicialmente num grau moderado, pois os danos podem ser remediados caso ocorra uma imediata mudança de atitude, tipo um presentinho hoje mesmo.



Outro indivíduo exacerbadamente suspeito é o síndico do meu condomínio. As tais taxas extras só podem ser coisa de quem não tem uma gota de sentimento e afeto por nossos rendimentos. E a frieza e a indiferença com que somos avisados reforça minha tese. Geralmente são correspondências impessoais, como quem dialoga com uma caixa registradora, que fazem rodeios e mise-em-scène de motivos para no final nos golpear duramente. Esse senhor me preocupa e deve ser vigiado de perto.



Apesar da inquestionável eloqüência dos relatos e argumentos acima expostos, que baseiam minhas suspeitas quanto ao caráter patológico dos estudos de caso, devo registrar que o diagnóstico está numa etapa clínica bastante inicial, sujeito ainda a retoques. Contudo, já é possível constatar, mesmo sob a tutela do inseparável otimismo que me caracteriza, que o mundo é sim um lugar perigoso para passear, trabalhar e viver, e a natureza humana pode ser, por vezes, surpreendentemente desagradável. Portanto, concluo este aprendiz de laudo clínico afirmando que a palavra de ordem deve ser “cautela”, pois o inimigo espreita e o perigo pode estar ao seu lado.


6 comentários:

Alice Teixeira disse...

Querida Panndora,
Através desse seu estudo pude perceber o risco que estou correndo ao me relacionar com essas pessoas. Tudo bem que me encontro em uma condição que, podemos dizer, é satisfatória, já que (na condição de uma reles estagiária) não sou tão importante ao ponto de sofrer nas mãos nefastas de alguns dos seus casos de estudo.
Mas me faz pensar...
Uma pessoa que diz a outra que uma terceira pessoa fez algo que (obviamente) ela não fez (como dizer que um cidadão parece com um personagem pitoresco de um filme de comédia que tem por estrela um fashionista)... Isso entraria no seu estudo?
Caso positivo, devemos analisar também a autora do texto?
Bem, não sei...
Sei apenas que "de médico e louco, todos temos um pouco..."

Beijos de sua fã
Ecológica

panndora disse...

Ctrl + C para o pertinente comentário especializado de minha amiga e conselheira NiceBrida, enviado por e-mail.

Amiga Insana,

Após ler esse seu relato assustador, confesso que, apesar de não ser ovo, fiquei bastante chocada ao constatar o quão verídicos são esses fatos, que, muitas vezes, passam por nós de maneira imperceptível, até que o pior aconteça. E, quando eu falo no pior, estou imaginando mesmo cabeças rolando, corpos ensanguentados e mutilados, enfim, coisas típicas de cereais killer (como diria Carla Perez, minha mentora espiritual).
Eu mesma já fui vítima desses psicopatas doentios. Na semana passada, assisti, estupefata, a um pleno descontrole emocional do nosso Diretor de Departamento. Ó visão angustiante, quando ele, no auge da sua loucura, começou a gritar até que as veias saltassem do seu pescoço e os olhos saltassem das órbitas, atirando os móveis contra a parede num gesto completamente irracional e tresloucado! A sua boca espumava de tanta raiva, paracendo sabão em pó numa máquina de lavar, quando ele, exasperado, ligava para a nossa também-psicopata-chefe e berrava a plenos pulmões frases ofensivas como: "VOCÊ VAI VER!", "O QUE É SEU TÁ GUARDADO!", "SE ESSA @@##$ DER %&$%%&&, VOCÊ É QUEM VAI SOFRER AS CONSEQUÊNCIAS!" e assim por diante. Após o festival de ameaças e gritos, o telefone foi jogado pela janela, juntamente com a pobre mesa centenária que estava sob ele. Eu já estava de pé em direção à porta, aterrorizada, quando ele se recuperou do transe mediúnico e falou como se nada tivesse acontecido: "a TPM masculina pode ser bem pior do que a feminina". Diante de uma frase tão eloquente, eu saí sem nada a dizer, e me pus a pensar sobre a relação entre loucura, transtorno bipolar e taxas hormonais alteradas.
O que dizer sobre a minha chefia imediata? O mesmo que você, cara amiga. É uma criatura vil, que esconde sob o seu sorriso de Colgate Menta Natural as mais terríveis ameaças. Quando ela olha sorrindo para a gente e fala coisas suaves como "oi gatinha, quero falar com você viu", pode esperar porque aí vem bomba, pois ao mesmo tempo ela está pensando: "essa aí vai se $###@@$$ hoje - hahahahahahaha". Ela é uma mistura de Malvina Cruela, Jack o Estripador e vilã da novela das oito. Terrivelmente sanguinária e malvada, nunca se cansa de dalitizar os seus pobres subordinados. Soube que a minha pobre Vizinha, coitada, uma pessoa extremamente gente boa e educada, é obrigada a se submeter aos mais variados tipos de tortura mental, tendo inclusive que aguentar horas a fio os seus devaneios psicopáticos e ensandecidos ao telefone. Maldito Plano da Vivo!!! Malditos bônus de 5.000 minutos ao dia!! Eu, que sou loira mas sou inteligente, vou migrar para a Tim.
Para finalizar, vou somente citar a frase dos sábios incas: "Psicopata, cachaça e bolacha em todo canto se acha". Principalmente na SUCAB!!



Nice

panndora disse...

Ecológica,

Também considero o ambiente inadequado para você, considerando sua pouca idade, e muito você se engana que na condição de estagiária estará mais protegida. Muito pelo contrário, a corda sempre arrebenta no lado mais fraco. Quanto ao seu questionamento, a resposta é não, pois tudo que é feito pensando no bem da outra, mesmo que os caminhos sejam tortuosos e nada óbvios, não pode partir de um psicopata. Por fim, não se preocupe. Enquanto estiver sobre minha proteção, tudo estará bem.

1000 bjs lindinha.

panndora disse...

Pobre vítima NiceBrida,

O seu genial desabafo me leva a confessar que, o diagnóstico sobre nosso chefinho foi baseado no surto psicopático que ele teve com você, que me foi relatado por ele mesmo com uma cara arrependida, quase chorando. Tudo fingido, é claro, o que é característico deste transtorno. É realmente assustador trabalharmos nesse ambiente que simula uma roleta russa, onde todos vivem sob a terrível expectativa de ser a próxima vítima.

Minha solidariedade,
Panndora

Unknown disse...

Queridíssima caixinha de surpresas.

O que você não deu atenção no comentado livro da profissional e eu lembro com uma certa apreensão, é que após uma manifestação sociopata, várias outras a seguirão em um processo incontrolável de identificação.....
Caiu a ficha? Quer que eu explique?
Eu sou seu fã, mas não é por identificação.
Adoro vc.! Com todo respeito, amigo Medeiros.
Beijos.

panndora disse...

Borges,

Sim, esta é uma ameaça real, mas a qual teremos que conviver. De qualquer maneira, dentro de nosso ambiente de trabalho só exemplifiquei três colegas, mas os sintomas são facilmente identificados em muitos outros, e não excluo nem eu, nem você, do grupo de risco.
bjs 1000.