quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Atividade Alternativa


Recentemente, num curso de pós, a professora de "Sistemas das Organizações" foi categórica em afirmar que devemos ter uma atividade alternativa à nossa atividade oficial, e que, de preferência, esta atividade deve ter pouco ou nada a ver com nossa profissão. Segundo ela, o mercado de trabalho hoje é muito dinâmico e ninguém está seguro onde está, podendo vir a ter que se adaptar à funções pouco afins com as que exerce atualmente. Além disso, atividades diferentes oxigenam nosso cérebro e sempre abrem novas possibilidades.

O grande barato do estudo continuado é justamente esse, permanecer disposto a sacudir nossas idéias e paradigmas, mas esse toque não foi exatamente uma revelação para mim. Profissionalmente abracei a carreira de arquiteta, apesar de hoje muito pouco arquitetar e exercer mais uma função de gestora de projetos da área. Mas como alternativa profissional nunca almejei paisagismo, design, decoração ou qualquer coisa que passasse perto da arquitetura. Na verdade, me entreguei a delírios muito diferentes e nada ortodoxos. Sonho ser patinadora de supermercado, aquele pessoal que fica agilizando o vai e vem de produtos pelos corredores da loja. Imaginem, ser paga para passar o dia inteirinho deslizando sobre patins num piso lisinho como uma peruca depois da chapinha, desviando de uma prateleira aqui, de um cliente ali. É a glória! Também considero com carinho a idéia de ser bailarina de banda de música de grande sucesso. Tenho uma certa intimidade com a dança e, sobretudo, adoro o ofício. Então, nada melhor do que unir o agradável ao rentável. Acordar pela manhã com a dura tarefa de ter que dançar por horas ensaiando, concluindo o dia com uma apresentação para alguns milhares de pessoas gritando enlouquecidas pelo show. Se não bastasse tudo isso, ainda ter que viajar em turnês pelo país e até pelo exterior. Parece um sonho. Por mais bizarro que possa parecer, quando entro neste transe só me vem à cabeça a banda "Calypso" com seu frenético tecnobrega. Cada um tem o sonho que merece.

Contudo, os fatos têm revelado que não sou a única acalentar o sonho de atividades desconexas com a oficial. Vejam o caso daquela professorinha de Salvador, que durante o dia dedicava-se candidamente ao magistério para a primeira infância em uma escola particular da capital baiana, e à noite, ao apagar das luzes, se liberava ao som do pagode "todo enfiado" na picante casa de shows Malagueta. Reconheço que seus remelexos estavam longe de ser um inocente ofício, mas nesta história não consegui ainda identificar o que é mais deplorável. Se é a própria coreografia ou se é a nojenta hipocrisia da mídia e da sociedade, que ora festeja o estilo musical e suas coreografias vulgares e ora, sedentos de notícias sensacionalistas e seus respectivos "Judas", aclamam a mulher como inimiga pública número um, num uníssono "joga pedra na Gení", adormecendo no esquecimento escândalos políticos muito mais ofensivos para a moral e os bons costumes. Opiniões a parte, a gente tem que reconhecer: a moça tinha um certo talento para o show business. Com a celebridade alcançada depois do post no "You Tube" e as mais de cem mil visitas, acho que a garota considerou a possibilidade de tornar esta a sua atividade principal, fazendo a extravagância de atuar paralelamente, na surdina, quem sabe, como docente do ensino infantil.

Existem, contudo, aquelas atividades que não são programadas, nunca foram objeto de desejo e não tem nenhum glamour, mas quando menos se espera o talento bate a porta de uma forma tão contundente que fica difícil ignorar. Assim aconteceu com uma amiga. Ela estava indo muito bem na sua vida profissional no serviço público, com o trabalho reconhecido e grandes perspectivas de crescimento. Dinheiro também não era o problema, e a vidinha seguia seu curso de forma muito tranqüila, beirando o enfadonho. Em um belo dia, quando chegava para a labuta, se deparou com alguns colegas de trabalho cumprimentando outro colega. Alegre e solícita como sempre, de longe veio pulando e cantando:.
- "Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida".
Quando alcançou nosso amigo, pulou sobre ele com um forte abraço e alguns beijos. Não contente, sem dar tempo para o cara sequer respirar, emendou:

- "A chuva cai, a rua inunda, ô fulano eu vou comer seu bolo. É vatapá, é carurú, ô fulano eu vou comer o seu bolo."

Quando acabou, ofegante com tanta felicidade e diante dos olhares estupefatos dos demais, disse:

- Eu não sabia que era o seu aniversário!

- Não é! - Respondeu ele, continuando: - foi meu pai que morreu.

Apesar do absurdo da situação, o mico quebrou o clima e relaxou inclusive nosso colega em luto. A história correu os corredores da empresa e, tratando-se de uma pessoa tão sensível e inteligente, pensamos todos que ela havia, a duras penas, aprendido a lição. Como a gente se engana com as pessoas. Poucos meses depois, novamente quando chegava para o trabalho, ao abrir a porta viu duas colegas de trabalho abraçadas. Sem pensar duas vezes, já saiu gritando:

- Amiiiiiga, não sabia que era seu aniversário. "É big, é big, é big, é big, é big! É hora, é hora, é hora, é hora, é hora! Ah! Tchim! Bum! Êêêêêê!!!!!!!"

A louca foi tão segura nas suas afirmações que acabou confundindo todo mundo. A que estava sendo abraçada virou para a que estava abraçando e perguntou:

- É seu aniversário?

- Não! - Respondeu ela. - É seu?

- Não! 

Foi só então que a desvairada resolveu perguntar: - Então qual é o motivo de tanto abraço?

A abraçada respondeu: - Foi meu irmão que morreu!
A trapalhada foi tanta que a história chegou a mim por nossa colega que havia perdido o ente querido, confessando que, apesar de tudo, também deu suas risadas.
Diante da repercussão dos "causos" e os consecutivos comentários e incentivos, minha amiga começou a vislumbrar a possibilidade de lucrar com seus talentos naturais. Não demorou e apareceu logo uma candidata à sócia que, com talentos semelhantes, costuma atrapalhar-se nos cumprimentos das cerimônias fúnebres, distribuindo parabéns para todos os parentes do defunto. As duas abriram uma empresa que tem a finalidade de animação de velórios, enterros, missas de sétimo dia, cerimônias de cremação e semelhantes. Os negócios vão de vento em pôpa e as empresárias já estão estudando a possibilidade de abrir franquias com a venda do know-how. São realmente garotas empreendedoras. Admiro a criatividade e atitude, mas peço a Deus não ter a oportunidade de prestigiar seus serviços tão cedo. 

4 comentários:

Unknown disse...

Eu acho muito pertinente essa história de atividade alternativa, principalmente para nós, arquitetos, que ganhamos tão pouco e precisamos comprar o caviar nosso de cada dia.
Você mesma é um bom exemplo disso: sempre se aprimorando,fazendo aulas de dança, somente para não fazer feio com a sua carreira de dançarina do Calypso.
De qualquer forma, só acho que faltou um pequeno detalhe: a divulgação do contato. O site é www.caixaofeliz.com.br.

panndora disse...

Nicinha,

Tenho o maior prazer em divulgar os serviços e contatos de vocês, afinal, esse sucesso empresarial eu vi nascer, só achei que não cabia no texto. A sacada de vocês foi muito boa por vários aspectos, mas por um especialmente: vocês nem precisam se esforçar tanto para prestar um bom serviço, porque o cliente não vai voltar mesmo.

Bjs.

panndora disse...

Lurdinha,

Obrigada pelo toque do "de vento em pôpa", afinal, não é polpa de fruta mesmo. Já corrigi e lhe peço que continue me ajudando a melhorar a qualidade literária do blog, com esse tipo de toque e as boas sacadas que você tem.

Bjs 1000

panndora disse...

Opssss,

Correção: Louramiga.