terça-feira, 23 de outubro de 2007

É preciso saber viver



São inevitáveis, com o passar dos anos, as reflexões sobre o tempo vivido, o tempo a ser vivido, as avaliações diante do espelho, os balanços de vida. Hoje, a poucos anos de emplacar os quarenta, me pego às vezes divagando sobre o tema. Claro que em âmbito nacional e mundial temos muitos exemplos de pessoas que souberam viver muito bem os anos que lhe foram concedidos, e outras tantas que, por outro lado, passaram por aqui, ninguém sabe para que. Mas não quero falar de grandes feitos, e nem preciso recorrer a figuras públicas. Tenho em mente vivências mais simples, pessoas comuns, pessoas que fazem parte de minha vida.

Há poucos dias estava em Sampa. Minha amiga, minha irmã, Simone Carol, para mim somente Rocqueira, que mora na super metrópole, completou quarenta anos de vida em outubro e festejou a data com uma balada. Catei o namorado e fomos juntos dividir com ela esse momento. Lelé, nosso xodó de longa data, que divide o AP com Rocqueira e muitas histórias conosco, já estava arquitetando as comemorações desde o início do ano. A festa foi ótima, embalada por uma banda que colocou todo mundo para dançar. A aniversariante reuniu em torno de 60 pessoas. Como diz ela, todas queridas, especiais. Não tenho dúvidas da recíproca do sentimento de quem lá estava por ela. Alguns, como eu, saíram de longe, da Bahia, de Belém, do Rio, especialmente para o evento. Não é para menos, Rocqueira é uma dessas pessoas que não passa despercebida por quem cruza o seu caminho. Aquela figura que ama demais, odeia demais, se é para rir, morre de rir, se é para chorar, espero que saiba nadar. Segundo ela, tem múltiplas personalidades. Quando doce e meiga, quer dizer, "doce e meiga" ela nunca é. Corrigindo, quando calma, paciente e mais cordata, é Simone. Quando "sobe nas tamancas", é Carol. Quando equilibrada, é Simone Carol.

Seja como for, nos conhecemos na escola quando tinha 15 anos. Ela não chegava a ter dois anos a mais, mas estava anos luz na minha frente. Era descolada, namoradeira, atleta de destaque e extremamente popular. Eu não era exatamente uma completa idiota; já era falante, extrovertida, de muitos amigos, mas aparentemente não tínhamos muito em comum. Mesmo assim, a empatia foi instantânea. Em pouco tempo nos tornamos parceiras no estudo (eu estudava e ela colava), nos esportes (ela jogava e eu torcia), nas baladas, viagens e projetos. Quando chegou o vestibular, coube a mim a responsabilidade de definir seu destino profissional. Escolhi seu curso superior, e acho que me saí bem, até melhor do que na minha própria escolha. O tempo passou e, em alguns momentos, foi padrasto com minha amiga. Mas o grande lance é justamente esse: dos limões que caíram em seu colo, ela soube espremer e fazer uma limonada, nem sempre doce. Hoje, ela vive um delicioso momento profissional e pessoal. Nada caiu do céu, foi construído pedra por pedra, com alegria, lágrimas, questionamentos, parcerias e muita determinação. Ela tinha mesmo razões para comemorar.

Voltando à festa, tivemos lá U2, Skank, Lulu Santos, Jota Quest, Paralamas e muitos outros. Começamos dançando em torno das mesas, mas em pouco tempo estávamos no gargarejo, pulando como "sapos na frigideira". Considerando a faixa etária dos convidados, ao pularmos, quase tudo em nossa anatomia pulava junto. Paula, nossa coligada, também de Belém, muito "presepeira" como sempre, lançou uma dança apropriada para situação: quando pulava, segurava os peitos, cada um com uma mão. Rapidamente, toda a mulherada aderiu à inovação e ficou bonito de ver, um grupo considerável de mulheres na beira do palco, cantando, pulando e segurando os peitos. De repente, quando olhamos, estava meu namorado também saltitando no salão com as mãos firmemente agarradas aos peitos. Paula se aproximou e explicando o porque de sua dança, disse: "é porque eu estou menstruada!". Ele, sem perder tempo, respondeu: "eu tambémmmm!!!!" Foi tudo muito divertido e Rocqueira, sem beber nada, estava embriagada de felicidade.

Dois anos atrás, Luana, sua irmã, também completou quarenta anos, e também com uma festa maravilhosa. O agito foi em Belém, ao som de "Acorda Alice", uma banda especializada em tocar rock nacional dos anos 80. Na mesma época, uma outra amiga nossa, uma mulher bonita, cheia de saúde, com uma família aparentemente estruturada e um emprego invejável, chegava aos seus quarenta anos, e passou o período a base de antidepressivos, para segurar a onda. É...poucos sabem decifrar os mistérios da vida, ou mesmo sem decifrá-los, sabem fazer do tempo, das venturas e desventuras parceiros e aliados. Que Deus me permita desfrutar sempre da companhia dessas pessoas e da sabedoria que elas derramam pelo caminho.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei, minha loura favorita.
Só que daí para frente cada vez menos vc. vai conseguir suportar uma balada pulando assim. Vai doer tudo!
Mas nem por isso é ruim, só doi.
Um beijo.
B

panndora disse...

Que prognóstico sombrio. Espero que esses efeitos colaterais demorem mais. Por outro lado, como você disse, se for para viver tudo com muito bom humor, não é tão ruim assim, não é?
bj p vc.