terça-feira, 2 de junho de 2009

A Revolução depois da Pílula


Outro dia estava em um setor da empresa que trabalho, onde também estavam mais nove colegas, todos arquitetos ou engenheiros. Analisava, concentradíssima, um projeto junto com um amigo, quando, de repente, ouvimos de uma colega:

"_Que bom seria se a gente, quando estivesse com muita vontade de fazer xixi e não pudesse se aliviar, tivesse a opção de entregar nossa "perseguida" para alguém fazer o favor de levar no banheiro."

Acho desnecessário dizer que nossa interlocutora é completamente tresloucada e autora de pérolas divertidíssimas, e que, por isso, ninguém se espantou. Contudo, a declaração teve um impacto instantâneo no ambiente. Imediatamente, os abnegados colegas da ala masculina prontificaram-se a ajudar conduzindo a "senhorita" ao toalete, mas não obtiveram sucesso. Diante da elucubração filosófica, não houve quem não quisesse participar e colaborar na tese inédita no meio acadêmico.

Para começar, vamos esclarecer: não se trata, propriamente, de uma mutilação. A ação seria mais elaborada e nada dolorida. Poderia ser, por exemplo, um simples processo mecânico de "desatarraxamento", algo como rosqueamento ou fixação por pressão. A princípio, imaginar aquilo me pareceu terrível, mas o pensamento é livre, o debate estava divertido e todos sentiam-se a vontade para opinar.

É claro que sempre tem gente para querer se aproveitar e o instrumento poderia ser usado para propósitos menos práticos e muito menos nobres. Por exemplo, aquela classe dos maridos descontroladamente ciumentos obrigaria violentamente suas mulheres a deixarem suas perseguidas sob a permanente guarda do cônjuge. Por outro lado, a mulher, vitimada e cansada de tanta opressão, poderia alugar uma perseguida alheia para deixar sob os cuidados do marido e fazer livre uso da sua, enquanto o parceiro imagina controlar a situação.
Já as mulheres, solidárias como são, usarão o recurso para colaborar umas com as outras. Uma amiga bem descolada poderia levar a perseguida de outra amiga, encalhada e entediada, para dar umas voltas e quebrar a rotina. Ou talvez uma senhora, casada, em dificuldades para explicar onde deixou a "sua menina", poderia contar com a ajuda de uma amiga de fé, que juraria de pé junto que a senhora deixou a mesma com ela para ser depilada.

O que não ficou muito claro e suscita uma cuidadosa pesquisa científica é de quem seriam as sensações proporcionadas pela "dita cuja". Seria da proprietária ou da portadora? Complicado. Se for sempre da proprietária, não importando onde a perseguida se encontre, poderia ser prático em alguns aspectos, mas, ocasionalmente, poderia também promover algumas "saias justas".

Vejamos: você está numa reunião formal de trabalho. Com o modelito impecável e uma retórica eloquente, causando a "maior boa impressão". Empolgada, você começa a utilizar toda aquela sua lista de palavras que ninguém sabe o que significa, mas que causam o grande impacto, quando, repentinamente, enquanto sua perseguida é utilizada indevidamente em algum canto da cidade, seus olhos começam a revirar. Muita calma nessa hora. Pode se desculpar alegando ter um alto grau de mediunidade e estar recebendo um "espírito de porco". Seja como for, o melhor é pedir licença e tratar de resgatar o que lhe pertence.

Por outro lado, se a sensação é da portadora, o que seria até muito justo pelo ônus de ter que carregar e cuidar, dificilmente atingiríamos aquela relação de parceria e cumplicidade que geralmente nutrimos com nossa "amiga íntima".

Como podemos ver, o assunto é realmente polêmico. Longe de querer encerrar o debate, escrevo aqui apenas algumas observações pessoais, mas frisando que é uma tese aberta, em fase de desenvolvimento. De qualquer maneira, deixo claro que, quando chegar na fase dos experimentos com cobaia humana, a vaga não me interessa.

13 comentários:

Unknown disse...

Pelo que vejo, dentro de pouco tempo você estará repetindo Candace Bushnell e escrevendo "SEX AND THE CITY" em Salvador.
Só não o venda para a rede Globo. Eles vão colocar alguma atriz oxigenada e patricinha de suas novelinhas de segunda no papel da protagonista e você não merece.
Beijo.
JB

Anônimo disse...

Tô com vc. Não quero ser cobaia.
É tudo meu... Faço o que quiser. Ninguem manda nela, só eu. Super egoista.

panndora disse...

Super egoísta,

Adoro o pensamento livre, mas em muitos temas, só o pensamento. Quanto às experiências compartilhadas, basta um bate-papo, não é?

Obs.: só se for egoísta nisso, porque de resto não é mesmo.

panndora disse...

JB,

Quem me dera, mas se por acaso acontecer algo parecido, adivinha de onde tirarei inspiração para compor os personagens...

Bjs.
Obs.: qual é a do preconceito com as louras?

Unknown disse...

Inssana
Já imagino ....
Emprestei para umas voltas (mais movimentadas é claro, já que com 21anos na mesma!!!)...
Reunião sucabiana, e de repente
ais e uis.....
kakakakakaka.............
HL

panndora disse...

Helena,

Seria bom numa reunião com a diretoria, para quebrar a formalidade, ainda mais de uma criatura em dieta rigorosa há 21 anos, mas também poderia ficar bem interessante numa apresentação de pesquisa ou trabalho em congresso. Na DP, quem é que costuma sempre apresentar uns trabalhos nesses eventos? Deixa eu imaginar a performance delas...

Unknown disse...

Acho essa idéia de produto descartável muito perigosa, se cair em mãos inescrupulosas. Isso pode gerar, inclusive, tráfego internacional de "desatarraxáveis" de alta periculosidade. Outra consequência seríssima pode ser o aumento do índice de desemprego das bonecas infláveis, que é um gravíssimo problema no nosso País.
Porém, o lado bom é que esse extraordinário avanço tecnológico poderá auxiliar nas cirurgias de mudança de sexo, retirando a "peça" indesejável e substituindo-a por outra rosqueável. Essa peça não precisa ser descartada, muito pelo contrário, pode ser amplamente aproveitada para vários usos científicos em prol da humanidade.
Em suma, a questão é polêmica e deverá ser fruto de discussão no Planalto.

Unknown disse...

O preconceito não é com as loiras, eu as adoro. É com a rede Globo mesmo.

panndora disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
panndora disse...

oBS.: tive que excluir para corrigir UNICEF, que escrevi UNIFEC. Então, agora vai.

Nicebrida,
De fato, o assunto é de tal relevância que deve ser amplamente discutido no planalto central. Tenho certeza que as instituições religiosas irão se manifestar contra. As feministas, a turma GLS, sexólogos, ambientalistas e afins irão fazer inúmeras manifestações pacíficas a favor. Os machistas, os "skinheads", "ku klux klan", sunitas, xiitas e afins farão violentas manifestações contra. O projeto Genoma vai querer se apropriar do estudo. A UNICEF convocará Daniela Mércure e Angelina Jolie para serem as embaixadoras da campanha pelo desatarraxamento, com show na Globo intitulado "desatarraxo esperança" e várias propagandas com atrizes globais dizendo "eu desatarraxo". Enfim, a população em geral vai participar ardentemente do debate com implicações biológicas, fisiológicas, na segurança pública, índice de desemprego, IDH, e muitas conseqüências sociais. Enfim, com tanta comoção, não podemos nos furtar de também participar da discussão. Mas volto a frisar: só tenho interesse em participar da discussão, somente.
bjssss

maluca beleza disse...

Realmente é um grande problema a coisa da sensação.
Se olhar pelo aspecto da responsabilidade,a guardadora é merecedora mas como ficará a proprietária?

Anônimo disse...

Sou pela autonomia da persequida. O que é isso? Nem eu sei.

Renato

panndora disse...

Só para registrar: a "maluca beleza" é a autora da tese em questão, e responsável por todo esse debate. Daí toda sua preocupação com a questão das sensações. Calma "maluca beleza", as pesquisas e experiências estão ainda numa fase muito inicial.

Renato,
você defende a liberação da perseguida porque não tem uma. Como escrevi no texto, acho interessante a tese e o debate, mas não vou aderir à campanha "eu desatarraxo".